A amizade é uma forma de morada,
um lugar onde a alma se despe sem
medo
e os silêncios se tornam linguagem.
Mas nem todas as casas são abrigo;
há laços que apertam,
há presenças que drenam,
há vozes que só sabem ser ouvidas
e nunca escutam.
Há amigos que fazem dos nossos
ouvidos
a sala de espera das suas dores,
horas de labirinto,
onde repetem os mesmos enredos
e esperam consolo, resposta,
solução,
mas não se sentam connosco
quando é a nossa vez de cair.
Quando encontram outro colo,
partem,
sem mágoa, sem gratidão,
como quem descarta um copo de papel
depois de saciar a sede.
Não dói a partida,
doía mais a permanência.
Há afectos que não são amor,
são fome
e há amizades que não libertam,
apenas consomem.
O silêncio que deixam é um alívio,
a ausência, um favor,
e o coração, que um dia esteve
cansado,
aprende a ser morada
só de quem sabe entrar com
respeito.
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