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terça-feira, 8 de julho de 2025

Do peso de certos laços / J.M.J.

A amizade é uma forma de morada,

um lugar onde a alma se despe sem medo

e os silêncios se tornam linguagem.

 

Mas nem todas as casas são abrigo;

há laços que apertam,

há presenças que drenam,

há vozes que só sabem ser ouvidas

e nunca escutam.

 

Há amigos que fazem dos nossos ouvidos

a sala de espera das suas dores,

horas de labirinto,

onde repetem os mesmos enredos

e esperam consolo, resposta, solução,

mas não se sentam connosco

quando é a nossa vez de cair.

 

Quando encontram outro colo,

partem,

sem mágoa, sem gratidão,

como quem descarta um copo de papel

depois de saciar a sede.

 

Não dói a partida,

doía mais a permanência.

 

Há afectos que não são amor,

são fome

e há amizades que não libertam,

apenas consomem.

 

O silêncio que deixam é um alívio,

a ausência, um favor,

e o coração, que um dia esteve cansado,

aprende a ser morada

só de quem sabe entrar com respeito.

 


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