É difícil sair da aldeia.
Não falo da geografia,
mas da raiz entranhada no peito,
da mãe, da terra, da casa,
dos ritos que nos ensinaram
o nome das coisas e o medo do
mundo.
Mesmo que o corpo parta,
há lugares que permanecem em nós
como um murmúrio de pertença,
um chão interior onde tudo começa
e, por vezes, se estagna.
Não se trata de renegar o que
fomos,
mas de soltar o nó da dependência
que nos impede de sermos vastos.
A liberdade não é um abandono,
é um alargamento,
é saber que há outras vozes,
outros deuses, outras casas
possíveis
dentro da alma.
Há quem estude, viaje, abrace o
mundo,
mas continue a carregar, como uma
sombra,
a aldeia que nunca soube largar.
Ser universal não é ser sem origem,
é deixar que a origem se dilua no
infinito,
como um rio que reconhece o mar
sem esquecer a nascente.
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