Existe em mim um corpo que não é só meu.
Sente com os outros,
estremece ao toque de um sopro
alheio,
recolhe-se com a dor que não viveu,
mas que acolhe como se fosse
antiga.
Quando alguém dança,
há músculos em mim que acompanham.
Quando alguém chora,
há um nó que sobe,
não sei de onde vem,
mas é meu também.
A música entra como se as notas
fossem veias,
e cada sopro da orquestra
me levasse para onde nunca estive
mas reconheço.
É como se o mundo,
no seu teatro de presenças e
partidas,
me chamasse a vestir as peles
de todos os que passam
e eu respondo,
sem saber como não o fazer.
Por isso fecho os olhos
quando a imagem fere,
fujo do que sei que rasga,
mas também me deixo levar
pelo que me eleva.
Sou corpo de sentir;
de ressonância
de vibração partilhada.
E por vezes,
não sei se sou eu,
ou se sou o mundo
a passar por mim.
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