Seguidores

quinta-feira, 24 de julho de 2025

Cinco Vibrações Invisíveis (poemas que escutam por dentro) / J.M.J.

1. Poema-seiva — a vibração que atravessa sem aviso

 

2. Alento — a vibração que ergue sem peso

 

3. Raiz sem nome — a vibração que sustém desde o fundo

 

4. Memória de água — a vibração que dissolve e envolve

 

5. Dentro do silêncio — a vibração que reflete e escuta

 

 

 

Há palavras que não dizem, escutam.

Há poemas que não se leem, respiram contigo.

 

 

 

Poema-seiva

 

Há palavras que não se dizem,

escorrem.

 

Ficam suspensas no antes da boca,

nos interstícios do sangue,

onde o silêncio arde.

 

Tu lês

e não sabes porquê,

uma célula tua se abre,

como se um nome antigo tivesse sido

lembrado

sem ter sido dito.

 

O poema não fala,

o poema pulsa,

rente à pele do osso,

na dobra onde o mundo se forma

antes de ser mundo.

 

E se fere,

é para curar a parte em ti

que já estava a ouvir

muito antes de leres.

 

 

 

 

Alento

 

Há um sopro que sobe em ti,

sem que o invoques.

 

Nasce no lugar onde o medo

já não tem forma,

apenas calor.

 

É leve, mas firme,

como quem não empurra:

convida.

 

Passa entre as vértebras

como canto sem som,

abrindo espaço

a um corpo que já era,

mas não sabia que podia ser.

 

E quando te levanta,

não é para que fujas da terra,

é para que vejas

que sempre tiveste asas

e não tinhas dado por isso.

 

 

 

 

Raiz sem nome

 

Há um peso que não dói

mas puxa.

 

Não vem de fora,

nem de cima,

vem de onde nasceste

antes de nascer.

 

Um lugar sem claridade

mas onde tudo germina.

 

Ali,

não há pressa,

nem ruído,

apenas um compasso

mais antigo que o tempo.

 

E quando escutas,

não ouves palavras,

ouves matéria.

 

É ali que o poema começa:

não na escrita,

mas na escavação

e cada verso

é uma pá de silêncio

a abrir caminho

até à seiva

que nunca mentiu.

 

 

 

 

Memória de água

 

O que te atravessa

não tem margens.

 

Chega sem forma

e molda-se ao teu dentro,

como quem já te conhece

desde o primeiro mergulho.

 

Não pressiona,

Circunda,

não impõe,

insinua.

 

Desce por dentro

das tuas certezas secas

e desfaz os contornos

com a paciência dos rios.

 

Tu lês

e não sabes onde começa o poema

e onde terminas tu.

 

Mas sentes

que foste lavado

por uma lembrança

que não sabias ter.

 

E que agora,

há qualquer coisa em ti

a respirar com mais largura.

 

 

 

 

 

Dentro do silêncio

 

Há um lume que não aquece,

mas ilumina.

 

Não brilha para fora,

abre frestas por dentro.

 

Move-se como sombra doce

na parede do sono,

sussurrando gestos

que ainda não têm nome.

 

Não diz o que fazer,

faz-te ouvir

o que já sabias.

 

E se o poema se esconde,

não é para te afastar,

é para que te aproximes

com o cuidado,

que só se tem

por aquilo que se ama

sem saber porquê.

 

Lê devagar.

Alguma coisa em ti

está a escutar-se

pela primeira vez.

Sem comentários:

Enviar um comentário