Fomos feitos para nos ferir,
não por maldade pura,
mas por um desvio intrínseco,
um erro na fundação da alma.
Chamamos amor
à posse,
amizade
à conveniência,
liberdade
ao medo disfarçado.
Construímos muros com palavras doces,
apedrejamos com abraços,
fingimos redenção
com palavras que se desfazem ao toque.
O outro, esse espelho impossível,
torna-se o campo de batalha
onde projetamos
as guerras que não queremos travar em nós.
E no fim de cada gesto,
uma faísca de arrependimento;
tarde demais,
fraca demais.
Como se a espécie tivesse nascido
com asas cortadas no nascimento,
e só soubesse rastejar
na esperança de um céu
que nunca aprendeu a nomear.
(Poema inspirado numa ferida que Dostoiévski soube nomear)
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