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quinta-feira, 24 de julho de 2025

Asas Cortadas no Nascimento / J.M.J.

Fomos feitos para nos ferir,

não por maldade pura,

mas por um desvio intrínseco,

um erro na fundação da alma.

 

Chamamos amor

à posse,

amizade

à conveniência,

liberdade

ao medo disfarçado.

 

Construímos muros com palavras doces,

apedrejamos com abraços,

fingimos redenção

com palavras que se desfazem ao toque.

 

O outro, esse espelho impossível,

torna-se o campo de batalha

onde projetamos

as guerras que não queremos travar em nós.

 

E no fim de cada gesto,

uma faísca de arrependimento;

tarde demais,

fraca demais.

 

Como se a espécie tivesse nascido

com asas cortadas no nascimento,

e só soubesse rastejar

na esperança de um céu

que nunca aprendeu a nomear.

 

 

(Poema inspirado numa ferida que Dostoiévski soube nomear)

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