Caminho só,
com os pés descalços no enigma,
a terra fala-me por dentro
e a resposta não vem,
vem um silêncio com sede.
Vejo ao longe uma centelha,
a girar como faísca num tambor,
palavras que dançam antes de nascer,
vozes que não conheço,
mas que me conhecem.
Ergue-se diante de mim
um espelho com olhos de quem acolhe
as feridas sem lhes perguntar o nome.
Sento-me no seu colo invisível
e aprendo o que é cuidar
sem querer entender.
Depois, chega uma leveza,
não como chegada,
mas como um sopro que desfaz margens.
Sou levado,
como se o ar me devolvesse
ao que nunca fui,
mas sempre esteve à espera.
Não guardei chave nenhuma.
Fui porta,
aberta no exacto momento
em que deixei de procurar.
E ali, sem mapa,
era o universo inteiro
a passar-me por dentro.
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