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quinta-feira, 24 de julho de 2025

Chave / J.M.J.

Caminho só,

com os pés descalços no enigma,

a terra fala-me por dentro

e a resposta não vem,

vem um silêncio com sede.

 

Vejo ao longe uma centelha,

a girar como faísca num tambor,

palavras que dançam antes de nascer,

vozes que não conheço,

mas que me conhecem.

 

Ergue-se diante de mim

um espelho com olhos de quem acolhe

as feridas sem lhes perguntar o nome.

Sento-me no seu colo invisível

e aprendo o que é cuidar

sem querer entender.

 

Depois, chega uma leveza,

não como chegada,

mas como um sopro que desfaz margens.

Sou levado,

como se o ar me devolvesse

ao que nunca fui,

mas sempre esteve à espera.

 

Não guardei chave nenhuma.

Fui porta,

aberta no exacto momento

em que deixei de procurar.

 

E ali, sem mapa,

era o universo inteiro

a passar-me por dentro.

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