Dizem que vão à Índia
buscar-se,
que a alma dança nas ruas poeirentas,
que o nirvana está no cheiro do curry
e no pano colorido dos mercados.
Mas não veem o menino que dorme no cimento
com os ossos à mostra,
nem a rapariga vendida num casamento
que não quis,
nem sequer o velho que lambe as sobras no prato
de um turista espiritual.
Vão para se iluminar,
mas não veem,
pois a Índia que procuram é um post no Instagram,
porque a que existe, sangra.
Os deuses estão lá, sim,
mas não moram nos templos dourados,
habitam o olhar das mulheres sem nome,
estão nos pés dos intocáveis,
nos corpos amontoados dos comboios.
Talvez um dia,
em vez de buscarem o sagrado no exótico,
olhem para o chão
e vejam:
é na miséria,
na lágrima sem palco,
que o Divino mais arde.
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