— Onde estás, alma quebrada,
quando o fogo arde sem misericórdia?
— Estou no lume, despido e nu,
senti o ardor da solidão e do aço,
mas aprendo a ser ferro temperado.
— O que a dor te ensinou que antes não sabias?
— Que as chamas não consomem,
mas limpam o que impede o brilho,
e que o verdadeiro aço é forjado na chama do abandono.
— E o que nasce desse fogo inclemente?
— Nasce o corpo renovado,
a vontade que não cede,
a chama que não se apaga,
a coragem de quem sabe que o passado arde para abrir caminho.
— Mas ainda há cicatrizes?
— Sempre, pois são mapas da jornada,
não feridas que pedem cura,
mas sinais de que resisti ao fogo e sobrevivi.
— Então segues a forja sem medo?
— Sim, pois sei que a transformação é eterna,
e que cada queda e cada chama
são passos para o ser que habita além do medo.
(Há dores que não vêm para destruir, mas para transformar.
A alma, como o ferro, precisa do fogo para revelar a sua forma verdadeira.
Este poema é sobre o lugar da prova, da lapidação.
Onde o ser é colocado na forja da existência — e tudo o que é superficial
se queima, para que o essencial possa emergir.
Nem tudo o que arde é ruína. Às vezes, é revelação.
Que estas palavras possam acompanhar os que atravessam o fogo,
lembrando que mesmo a dor tem propósito —
e que da sombra da brasa nasce, silenciosamente, o ouro da consciência.)
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