Disseram-nos que o céu expandia
num silêncio sem falha,
como se o tempo fosse linha esticada
e o escuro, apenas pano de fundo.
Mas o cosmos vacila
como quem se recorda de um segredo
e hesita no meio do passo.
Talvez a força que tece o vazio
não seja apenas impulso,
mas pensamento em movimento,
memória que respira sem som.
E se tudo o que avança
souber também recuar?
E se o longe se dobrar sobre si,
como um cílio que toca o olho do mundo?
A constante que chamámos verdade
pode ser só o compasso de um grande peito
a encher-se devagar
antes de um novo dizer.
E nós, lampejos do mesmo tecido,
sentimos sem saber
o frémito da mudança
no lugar onde o nome ainda não chegou.
Há uma escuta a acontecer
mesmo no silêncio das fórmulas.
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