Não me deixes fugir
deste espelho gasto,
onde vejo os contornos
do que fui e não sou.
Nem tudo o que cai é ruína,
às vezes, é raiz.
Aceita, ó Fonte,
que eu te busque sem véu,
mesmo quando me espanto
com a nudez do que encontro.
Ensina-me a suportar
o susto do real,
a cruz da lucidez,
a desilusão que me acorda
para o que ainda pode nascer.
Se o maravilhamento tarda,
que ao menos eu saiba esperar,
não com passividade,
mas com o peito aceso
de quem já provou
o travo da verdade.
Se esta dor é o trabalho do barro,
não me deixes endurecer,
modela-me, mesmo no escuro,
sê o sopro que insiste
quando eu já não consigo pedir.
E se houver um dia
em que o espanto for leve
e o olhar não se turvar
ao ver-me inteiro,
então serei casa,
não para mim,
mas para o mundo
que ainda respira dentro.
Sem comentários:
Enviar um comentário