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segunda-feira, 7 de julho de 2025

O Coração que Não Nasceu / J.M.J.

Querem salvar o feto,

mas esquecem a criança

e erguem cartazes contra o sangue,

mas viram o rosto à fome.

 

Pregam que a vida é sagrada,

mas não a seguem até ao berço,

não veem a mãe exausta,

nem a fila no centro de acolhimento,

nem nunca se sentam no chão com o órfão,

nem abrem portas à adoção.

 

Dizem “não mates”,

mas calam quando ela morre

num quarto clandestino,

num hospital sem nome.

 

Falam de Deus,

mas não O escutam no choro,

falam de amor,

mas esquecem o amor depois do parto.

 

Combatem o aborto,

mas não combatem a solidão,

a miséria,

o sistema que falha,

a lei que oprime.

 

Derramam milhões para pregar,

mas não para cuidar,

não para adotar,

nem desburocratizar,

nem para educar,

nem proteger.

 

E dizem que defendem a vida.

Mas qual vida?

 

Aquela que serve o dogma,

ou aquela que sangra no mundo real?

 

Porque se a vida é sagrada,

é sagrada também

no corpo da mãe,

na infância sem colo,

na rua onde a criança dorme.

 

E um coração não nascido

tem o mesmo valor

que o coração esquecido

num corpo que já nasceu.

 

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