Querem salvar o feto,
mas esquecem a criança
e erguem cartazes contra o sangue,
mas viram o rosto à fome.
Pregam que a vida é sagrada,
mas não a seguem até ao berço,
não veem a mãe exausta,
nem a fila no centro de acolhimento,
nem nunca se sentam no chão com o órfão,
nem abrem portas à adoção.
Dizem “não mates”,
mas calam quando ela morre
num quarto clandestino,
num hospital sem nome.
Falam de Deus,
mas não O escutam no choro,
falam de amor,
mas esquecem o amor depois do parto.
Combatem o aborto,
mas não combatem a solidão,
a miséria,
o sistema que falha,
a lei que oprime.
Derramam milhões para pregar,
mas não para cuidar,
não para adotar,
nem desburocratizar,
nem para educar,
nem proteger.
E dizem que defendem a vida.
Mas qual vida?
Aquela que serve o dogma,
ou aquela que sangra no mundo real?
Porque se a vida é sagrada,
é sagrada também
no corpo da mãe,
na infância sem colo,
na rua onde a criança dorme.
E um coração não nascido
tem o mesmo valor
que o coração esquecido
num corpo que já nasceu.
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