Às vezes o chão chama com urgência
e há em cada passo o peso do necessário,
mas no mesmo instante,
algo mais leve sopra por dentro,
como se a alma soubesse
que a rigidez também se pode dobrar.
O mundo pede firmeza,
mas o coração não ignora
o apelo das margens,
onde a dúvida faz nascer caminhos.
Há vozes que se erguem no invisível,
bordando gestos comuns com um sopro maior.
São os fios que nos prendem uns aos outros,
não por obrigação,
mas porque no outro
também se reconhece a própria sede.
As tensões atravessam o dia
como correntes que se puxam em sentidos opostos.
Há forças a querer romper
e outras a tentar sustentar,
e no meio, a consciência:
não como juízo,
mas como um espelho em que tudo se revê.
A verdade não vem aos gritos,
chega em fragmentos,
em lampejos de silêncio,
no instante em que deixamos de lutar contra o que é
e nesse instante,
abre-se uma clareira onde antes era só densidade.
É preciso ternura para continuar,
coragem para não endurecer
e escuta,
porque nem sempre o caminho é anunciado com sinais,
às vezes, apenas se sente,
como uma brisa que nos atravessa
e nos diz, sem palavras,
qual o próximo passo.
22 abril 2025
(Poema inspirado na configuração celeste deste dia — posição dos planetas e
aspetos)
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