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quinta-feira, 24 de julho de 2025

Depois do véu / J.M.J.

Não,

não eras tu,

era o reflexo do meu desejo

na água turva da carência.

 

Amei em ti

a promessa do que faltava,

e fui fiel

ao vulto que projetei no vazio.

 

Não me traíste,

fui eu quem cedeu

à fome antiga de pertença,

ao engano doce

de ser necessário

a alguém.

 

Hoje sei:

foste passagem,

imagem moldada pelo medo,

pele que vesti para não gelar

no frio da espera.

 

E quando acordaste

pequena,

feia,

sem substância,

foi porque eu,

finalmente,

abrira os olhos.

 

Não te julgo.

Nem me julgo.

Fomos ambos máscaras

do que não sabíamos nomear.

 

E agora,

não te espero mais,

nem te odeio,

apenas solto o teu nome

na corrente do esquecimento

e volto a casa,

 

onde, enfim,

posso estar comigo

sem precisar de me perder

em ninguém.

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