Não,
não eras tu,
era o reflexo do meu desejo
na água turva da carência.
Amei em ti
a promessa do que faltava,
e fui fiel
ao vulto que projetei no vazio.
Não me traíste,
fui eu quem cedeu
à fome antiga de pertença,
ao engano doce
de ser necessário
a alguém.
Hoje sei:
foste passagem,
imagem moldada pelo medo,
pele que vesti para não gelar
no frio da espera.
E quando acordaste
pequena,
feia,
sem substância,
foi porque eu,
finalmente,
abrira os olhos.
Não te julgo.
Nem me julgo.
Fomos ambos máscaras
do que não sabíamos nomear.
E agora,
não te espero mais,
nem te odeio,
apenas solto o teu nome
na corrente do esquecimento
e volto a casa,
onde, enfim,
posso estar comigo
sem precisar de me perder
em ninguém.
Sem comentários:
Enviar um comentário