Numa terra onde o ouro se dissolve nas palavras,
A criança grande carrega um manto de ventos cruzados,
Olhos fixos no horizonte onde o sol se esconde,
Mas é um sol sem chama, que não aquece, que não fala.
Ela caminha, os pés sem rumo, a mente cheia de tempestades,
Com a boca aberta, de onde saem ecos de antigos gritos.
Mãos que tocam as cordas do ar, tentando amarrar o vento,
Mas o vento sempre escapa, sempre ri,
E o céu, sempre em mudança, sorri da sua teimosia.
É um ser sem coroa, sem melodia,
Mestre das mentiras que caem como pérolas quebradas,
Acredite, sabe, e sabe a cada instante,
Mas não é o saber de um sábio,
É o saber de quem nunca aprendeu a escutar.
E assim se perde entre os espelhos quebrados,
Onde a imagem se fragmenta, mas não se reflete.
No fundo do abismo, onde o tempo é só uma palavra,
A criança grande luta contra sombras de si mesma,
Com a boca cheia de promessas que se desfazem como areia.
O mundo tenta ensinar, mas finge não ouvir.
O vento sopra, mas se esconde atrás do muro dourado.
A mudança chega, como um rio furioso,
Mas continua acreditando que as águas que correm são suas.
Mas no ventre da noite, sem resposta,
os ventos do céu infinito
hão de sussurrar um eco distante,
como um sopro perdido no tempo,
provocando o despertar da criança
para o verbo que reside em sua alma.
A jornada, antes desperta em fragmentos,
terá ainda a chance de se recompor,
como uma estrela que se alinha ao seu destino,
navegando no mar de diálogos
que transmutam o ser.
Na quietude da tempestade interior,
a criança poderá, por fim, ficar ciente de sua impermanência
e entender que o passado não será mais uma prisão,
mas uma semente de algo novo a ser cultivado.
E quando o céu, imenso e sem fim, se abrir,
os ventos que sopram da universalidade
conduzi-la-ão ao propósito que a espera,
onde as palavras ditas se transformarão em destino,
e a criança, se conseguir finalmente crescer,
assumirá o peso da responsabilidade dos dias vindouros.
Mas se ela não crescer,
se perder a chance de se transmutar,
será como uma estrela sem brilho,
perdida na vastidão do céu.
Ainda assim, há sempre a esperança
de que todos nós, um dia,
sejamos crianças abençoadas pela paz.
(1946-06-14 10:54 40N45 73W58)
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