Seguidores

segunda-feira, 7 de julho de 2025

A Casa Onde Nunca Volto / J.M.J.

Lembro-me de quando era inteiro,

quando o mundo cabia num quarto,

num riso solto, num afago breve,

e a casa era um ninho sem fissuras.

 

Mas crescer é esquecer os contornos,

perder o mapa,

ver-se ao espelho e não reconhecer

o rosto que ainda respira dentro.

 

Há em mim um fardo invisível,

uma fome que não se sacia,

um ímpeto de me erguer aos céus

e um medo atávico de cair.

 

Oscilo entre o grito e o silêncio,

entre a sede de luz e o refúgio da sombra,

entre a urgência de ser visto

e o pavor de me desvelar.

 

Carrego em mim o peso das perguntas,

as que ninguém ousa fazer,

as que me queimam por dentro

e me fazem querer fugir

para lugar nenhum.

.

E no entanto, persisto.

Lapido os erros, moldo as fracturas,

busco na ruína um novo alicerce,

como se o próprio caminho

fosse a resposta.

.

Talvez nunca regresse à casa que fui,

mas quem sabe, um dia,

aprenda a habitá-la dentro de mim.

Sem comentários:

Enviar um comentário