Lembro-me de quando era inteiro,
quando o mundo cabia num quarto,
num riso solto, num afago breve,
e a casa era um ninho sem fissuras.
Mas crescer é esquecer os contornos,
perder o mapa,
ver-se ao espelho e não reconhecer
o rosto que ainda respira dentro.
Há em mim um fardo invisível,
uma fome que não se sacia,
um ímpeto de me erguer aos céus
e um medo atávico de cair.
Oscilo entre o grito e o silêncio,
entre a sede de luz e o refúgio da sombra,
entre a urgência de ser visto
e o pavor de me desvelar.
Carrego em mim o peso das perguntas,
as que ninguém ousa fazer,
as que me queimam por dentro
e me fazem querer fugir
para lugar nenhum.
.
E no entanto, persisto.
Lapido os erros, moldo as fracturas,
busco na ruína um novo alicerce,
como se o próprio caminho
fosse a resposta.
.
Talvez nunca regresse à casa que fui,
mas quem sabe, um dia,
aprenda a habitá-la dentro de mim.
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