A alma da alegria
habita as espécies que não contam os dias,
que não retêm mágoas,
nem temem o fim.
Vive no voo dos pássaros,
que dançam com o vento
sem mapa,
sem destino.
Vive no riso implícito de um cão
ao correr descalço no mundo,
sem passado,
nem pressa.
Brilha no salto de um peixe
que atravessa a luz por intuição,
no girassol que gira
sem perguntar porquê,
e na onda
que se desfaz em contentamento
como se o mar fosse sempre novo.
Esses seres
não conhecem a palavra “felicidade”,
mas vivem-na
com mais pureza
do que qualquer verso humano.
Oferecem-nos a lembrança
de que a vida
pode ser uma exaltação
sem linguagem,
sem razão,
sem promessa.
Talvez a alma da alegria
seja o instinto da celebração,
antes de vir a consciência da morte.
Talvez sejamos mais plenos
quando esquecemos o que nos pesa
e simplesmente
existimos.
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