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sexta-feira, 1 de agosto de 2025

Nomear a Palestina (poema em defesa de um Estado que é povo antes de ser fronteira) / J.M.J.

Não é capricho,

nem invenção dos mapas,

é direito antigo

de um povo com raízes mais profundas

do que o cimento dos colonatos.

 

É o nome dito nas ruas de Jenin,

nos campos de oliveiras queimadas,

nas escolas que se erguem de novo

sempre que o mundo se distrai com outro conflito.

 

Não é o Hamas,

nem o terror,

mas quem vive,

quem nasce sob drones,

quem cresce com checkpoint na alma,

e ainda assim

acredita na infância.

 

A Palestina não é só Gaza,

não é só ruína,

nem só bandeira:

é o velho de Hebron que resiste em silêncio,

a médica que opera sem luz,

a poeta que escreve versos sob ocupação

sem que a metáfora se renda.

 

Dizem que não é o momento.

Mas quando será?

Quando já não houver crianças para chorar?

Quando os escombros forem património?

 

Dizem que não há com quem negociar.

Mas quem tem voz para falar?

Quem escuta o moderado,

quando o extremista domina as notícias?

 

Um Estado da Palestina

não apaga a dor de Israel,

mas impede que o medo de uns

justifique o aniquilamento de outros.

 

Criar um Estado

não é prémio,

é reparação.

 

Reconhecer o humano

antes da política,

o direito de existir

antes da conveniência.

 

Não é ameaça,

é promessa:

 

que ninguém será eterno exilado

na própria terra.

 

 

 

(Este poema não é um grito contra ninguém, é uma afirmação de humanidade.

Nasce da convicção de que o reconhecimento do Estado da Palestina não é uma questão de ideologia, mas de justiça histórica e de dignidade para um povo que tem sido sistematicamente despojado do direito à autodeterminação.

Não romantiza movimentos armados, nem ignora a complexidade política do Médio Oriente. Mas recusa aceitar que a existência de um grupo extremista, como o Hamas, possa continuar a ser usada como desculpa para negar os direitos civis e nacionais de milhões de palestinianos que não são militantes, mas mães, agricultores, estudantes, médicos, crianças.

A paz verdadeira só se constrói entre dois povos reconhecidos, não entre um Estado e um povo sob ocupação.

O poema é, por isso, um apelo à coragem diplomática, ao fim da hipocrisia internacional e ao reconhecimento da Palestina como um Estado com fronteiras claras, representação legítima e voz própria.

A Palestina já existe, nos corpos que sobrevivem, nos gestos que persistem, nas memórias que não se apagam.

Falta apenas que o mundo tenha a decência de nomeá-la como tal.)

 

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