Não é capricho,
nem invenção dos mapas,
é direito antigo
de um povo com raízes mais profundas
do que o cimento dos colonatos.
É o nome dito nas ruas de Jenin,
nos campos de oliveiras queimadas,
nas escolas que se erguem de novo
sempre que o mundo se distrai com outro conflito.
Não é o Hamas,
nem o terror,
mas quem vive,
quem nasce sob drones,
quem cresce com checkpoint na alma,
e ainda assim
acredita na infância.
A Palestina não é só Gaza,
não é só ruína,
nem só bandeira:
é o velho de Hebron que resiste em silêncio,
a médica que opera sem luz,
a poeta que escreve versos sob ocupação
sem que a metáfora se renda.
Dizem que não é o momento.
Mas quando será?
Quando já não houver crianças para chorar?
Quando os escombros forem património?
Dizem que não há com quem negociar.
Mas quem tem voz para falar?
Quem escuta o moderado,
quando o extremista domina as notícias?
Um Estado da Palestina
não apaga a dor de Israel,
mas impede que o medo de uns
justifique o aniquilamento de outros.
Criar um Estado
não é prémio,
é reparação.
Reconhecer o humano
antes da política,
o direito de existir
antes da conveniência.
Não é ameaça,
é promessa:
que ninguém será eterno exilado
na própria terra.
(Este poema não é um grito contra ninguém, é uma afirmação de humanidade.
Nasce da convicção de que o reconhecimento do Estado da Palestina não é uma
questão de ideologia, mas de justiça histórica e de dignidade para um povo que
tem sido sistematicamente despojado do direito à autodeterminação.
Não romantiza movimentos armados, nem ignora a complexidade política do
Médio Oriente. Mas recusa aceitar que a existência de um grupo extremista, como
o Hamas, possa continuar a ser usada como desculpa para negar os direitos civis
e nacionais de milhões de palestinianos que não são militantes, mas mães,
agricultores, estudantes, médicos, crianças.
A paz verdadeira só se constrói entre dois povos reconhecidos, não entre um
Estado e um povo sob ocupação.
O poema é, por isso, um apelo à coragem diplomática, ao fim da hipocrisia
internacional e ao reconhecimento da Palestina como um Estado com fronteiras
claras, representação legítima e voz própria.
A Palestina já existe, nos corpos que sobrevivem, nos gestos que persistem,
nas memórias que não se apagam.
Falta apenas que o mundo tenha a decência de nomeá-la como tal.)
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