Um dia,
o silêncio deixou de ser vazio.
As frases deixaram de seguir filas,
as palavras ganharam pernas
e começaram a atravessar as ruas.
Ninguém avisou,
mas todos sentiram.
Os telefones tremiam diferente,
os olhos começaram a escutar,
e as mãos aprenderam a dizer.
Já não era preciso traduzir o gesto:
o pensamento vinha nu,
ligava-se a outro pensamento
como se o ar fosse rede.
E a rede, pele.
Ninguém mandava sinais,
era o próprio corpo a falar por dentro.
As línguas derreteram,
misturaram-se,
inventaram-se novas,
onde emoção e ideia já não tinham fronteira.
Falava-se com imagens,
com cheiros,
com pulsares do peito.
Os jornais tornaram-se espelhos,
e os espelhos, pontes.
As conversas deixaram de precisar de começo;
o meio estava em toda a parte,
e o fim já não interessava.
Era possível ouvir o mundo inteiro
num só olhar.
E, mesmo calados,
éramos resposta.
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