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segunda-feira, 7 de julho de 2025

Sebastianismo: o mito que alimenta a ferida /J.M.J.

Sebastião não foi rei, foi criança coroada,

mimado e teimoso, lançado a um destino que não compreendeu.

A sua derrota em Alcácer foi mais que militar,

foi o golpe na alma de um povo que perdeu seus filhos e esperanças.

 

Mas a memória virou um espelho distorcido,

e num esforço de sobrevivência, ergueu-se o mito do rei que viria,

o salvador oculto, o Menino-Deus que traria glória e redenção.

 

É um culto doentio, uma negação da dor,

um refúgio para os que não conseguem aceitar a queda e a fragilidade.

Idealizar Sebastião e o Quinto Império é fechar os olhos à história,

é preferir o sonho à verdade, a fantasia à responsabilidade.

 

No fundo, é a ânsia da grandeza fácil,

uma tentativa desesperada de compensar uma derrota profunda.

Mas quem cultua essa ilusão esquece que o verdadeiro poder

não está no retorno de um rei ausente,

mas no enfrentar dos próprios limites,

na coragem de caminhar apesar das sombras.

 

O sebastianismo é uma prisão dourada, um eco repetido,

que aprisiona a alma portuguesa num ciclo de espera vazia.

É tempo de romper com o mito para que a história, com todas as suas imperfeições,

possa ser enfrentada e transformada.

 

Só assim Portugal poderá ser livre,

não como reino encantado que nunca veio,

mas como um povo que aceita sua humanidade,

com todas as suas derrotas e glórias.

 

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