Sebastião não foi rei, foi criança coroada,
mimado e teimoso, lançado a um destino que não compreendeu.
A sua derrota em Alcácer foi mais que militar,
foi o golpe na alma de um povo que perdeu seus filhos e esperanças.
Mas a memória virou um espelho distorcido,
e num esforço de sobrevivência, ergueu-se o mito do rei que viria,
o salvador oculto, o Menino-Deus que traria glória e redenção.
É um culto doentio, uma negação da dor,
um refúgio para os que não conseguem aceitar a queda e a fragilidade.
Idealizar Sebastião e o Quinto Império é fechar os olhos à história,
é preferir o sonho à verdade, a fantasia à responsabilidade.
No fundo, é a ânsia da grandeza fácil,
uma tentativa desesperada de compensar uma derrota profunda.
Mas quem cultua essa ilusão esquece que o verdadeiro poder
não está no retorno de um rei ausente,
mas no enfrentar dos próprios limites,
na coragem de caminhar apesar das sombras.
O sebastianismo é uma prisão dourada, um eco repetido,
que aprisiona a alma portuguesa num ciclo de espera vazia.
É tempo de romper com o mito para que a história, com todas as suas
imperfeições,
possa ser enfrentada e transformada.
Só assim Portugal poderá ser livre,
não como reino encantado que nunca veio,
mas como um povo que aceita sua humanidade,
com todas as suas derrotas e glórias.
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