Seguidores

segunda-feira, 7 de julho de 2025

Os Deuses Nasceram da Morte / J.M.J.

A morte não é o fim,

mas a curva de uma esquina escura,

onde o caminho,

que se estende para lá da nossa cegueira,

se abre a outros olhares.

O fim pode nunca ser o final,

mas o instante que revela a transformação.

 

Nascemos da morte,

como a flor que brota da terra que a enterra.

Não sabemos o começo, desconhecemos o fim.

Calculamos os ciclos que se desenham,

invisíveis, nas sombras de cada ser.

Cada respiração, cada movimento,

é uma dança entre o que parte e o que chega,

entre o que termina e o que começa,

ritmando o tempo de cada um,

na vibração oculta dos genes.

 

A dor da perda

é a tempestade antes do amanhecer.

O fim, que desfaz vidas e sonhos,

é também a semente do que há de vir.

Não sabemos como, onde, nem porquê,

mas tudo o que nos espera

é feito do que deixámos para trás.

A morte, no seu mistério,

revela um futuro que não vemos,

mas que, ainda assim, intuímos.

 

Os deuses nasceram da morte,

quando o homem os criou antes de morrer.

No medo de não se transcender na sua fragilidade,

de ser apenas pó de terra ou cinza,

deu vida ao que o protegeria

do incompreensível,

do abismo que, dentro de si,

é voz e verdade.

 

Na morte, morrem as formas,

mas a essência não se perde.

O fim não é um buraco negro

onde tudo se dissolve,

mas uma porta para outro reino,

onde o tempo não se conta

e o espírito se liberta.

 

Assim, a morte não é inimiga.

Ela é guia,

farol que nos conduz para além do que conhecemos,

para algo que não podemos medir,

mas que sentimos em cada átomo do nosso ser.

Ela é a chave da transformação,

a promessa da continuidade,

mesmo na sua ausência.

 

O fim, então, é apenas o começo disfarçado,

o grande segredo que nos chama a ir além.

E, ao atravessá-lo,

já não somos os mesmos.

Somos, de algum modo, deuses e homens,

nascidos da morte,

crescendo para a vida que não se vê.

Sem comentários:

Enviar um comentário