A morte não é o fim,
mas a curva de uma esquina escura,
onde o caminho,
que se estende para lá da nossa cegueira,
se abre a outros olhares.
O fim pode nunca ser o final,
mas o instante que revela a transformação.
Nascemos da morte,
como a flor que brota da terra que a enterra.
Não sabemos o começo, desconhecemos o fim.
Calculamos os ciclos que se desenham,
invisíveis, nas sombras de cada ser.
Cada respiração, cada movimento,
é uma dança entre o que parte e o que chega,
entre o que termina e o que começa,
ritmando o tempo de cada um,
na vibração oculta dos genes.
A dor da perda
é a tempestade antes do amanhecer.
O fim, que desfaz vidas e sonhos,
é também a semente do que há de vir.
Não sabemos como, onde, nem porquê,
mas tudo o que nos espera
é feito do que deixámos para trás.
A morte, no seu mistério,
revela um futuro que não vemos,
mas que, ainda assim, intuímos.
Os deuses nasceram da morte,
quando o homem os criou antes de morrer.
No medo de não se transcender na sua fragilidade,
de ser apenas pó de terra ou cinza,
deu vida ao que o protegeria
do incompreensível,
do abismo que, dentro de si,
é voz e verdade.
Na morte, morrem as formas,
mas a essência não se perde.
O fim não é um buraco negro
onde tudo se dissolve,
mas uma porta para outro reino,
onde o tempo não se conta
e o espírito se liberta.
Assim, a morte não é inimiga.
Ela é guia,
farol que nos conduz para além do que conhecemos,
para algo que não podemos medir,
mas que sentimos em cada átomo do nosso ser.
Ela é a chave da transformação,
a promessa da continuidade,
mesmo na sua ausência.
O fim, então, é apenas o começo disfarçado,
o grande segredo que nos chama a ir além.
E, ao atravessá-lo,
já não somos os mesmos.
Somos, de algum modo, deuses e homens,
nascidos da morte,
crescendo para a vida que não se vê.
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