Uma voz flutuou sobre o abismo,
não como um trovão,
mas como o eco de uma dúvida
que ressoava nas cavernas do tempo.
E lá estava o homem, de pé,
sob o peso daquilo que se chama fé,
sem saber se o chão sob seus pés era sólido
ou apenas uma miragem,
como se o próprio destino fosse tecido de escuridão.
“Prova-me”, disse a voz.
“Prova-me com o que te é mais caro,
o que te habita, o que não vê luz.”
E o homem, como todos os homens,
caminhou para a beira do precipício.
Não por desejo, mas por ser instruído a seguir
o traço cego daquelas palavras,
que o levavam para um lugar
onde os medos são absolutos
e a dor é a única moeda aceite.
“Prova-me”,
disse a voz, mais uma vez,
sem som, sem carne,
mas com o peso de um império invisível.
E o homem, desconcertado, olhou para as mãos
que jamais haviam tocado a espada da dúvida.
“Não basta o que sou, não basta o que já fiz.
Preciso agora sacrificar o que me define, o que me consome.
E mesmo assim, tu não verás o suficiente.”
O céu ruiu sobre sua cabeça,
como um véu que se rasga sem razão.
E, na areia, o sangue do futuro
se misturava com as palavras do passado.
Seria isso uma prova? Ou uma ilusão trágica,
feita para que a dor ganhasse corpo
e morasse entre nós?
Por que, perguntava-se, eria necessário sacrificar
o que foi criado com a única força
que verdadeiramente habita o homem – o amor?
Por que a insegurança de quem tudo vê,
e, ainda assim, pede mais, exige mais,
como um eco de algo que nunca se completou?
Se o poder fosse real,
seria suficiente.
Mas o que somos, se não aqueles que são testados
no mais profundo abismo,
onde a lealdade se mede com o fio da lâmina
e a dor é o preço da verdade?
Será o céu apenas uma miragem
para os olhos daqueles que nunca foram vistos?
E por que o som do silêncio pesa mais
do que a resposta que nunca virá?
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