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segunda-feira, 7 de julho de 2025

O Teste do Abismo / J.M.J.

Uma voz flutuou sobre o abismo,

não como um trovão,

mas como o eco de uma dúvida

que ressoava nas cavernas do tempo.

E lá estava o homem, de pé,

sob o peso daquilo que se chama fé,

sem saber se o chão sob seus pés era sólido

ou apenas uma miragem,

como se o próprio destino fosse tecido de escuridão.

 

“Prova-me”, disse a voz.

“Prova-me com o que te é mais caro,

o que te habita, o que não vê luz.”

E o homem, como todos os homens,

caminhou para a beira do precipício.

Não por desejo, mas por ser instruído a seguir

o traço cego daquelas palavras,

que o levavam para um lugar

onde os medos são absolutos

e a dor é a única moeda aceite.

 

“Prova-me”,

disse a voz, mais uma vez,

sem som, sem carne,

mas com o peso de um império invisível.

E o homem, desconcertado, olhou para as mãos

que jamais haviam tocado a espada da dúvida.

“Não basta o que sou, não basta o que já fiz.

Preciso agora sacrificar o que me define, o que me consome.

E mesmo assim, tu não verás o suficiente.”

 

O céu ruiu sobre sua cabeça,

como um véu que se rasga sem razão.

E, na areia, o sangue do futuro

se misturava com as palavras do passado.

Seria isso uma prova? Ou uma ilusão trágica,

feita para que a dor ganhasse corpo

e morasse entre nós?

 

Por que, perguntava-se, eria necessário sacrificar

o que foi criado com a única força

que verdadeiramente habita o homem – o amor?

Por que a insegurança de quem tudo vê,

e, ainda assim, pede mais, exige mais,

como um eco de algo que nunca se completou?

 

Se o poder fosse real,

seria suficiente.

Mas o que somos, se não aqueles que são testados

no mais profundo abismo,

onde a lealdade se mede com o fio da lâmina

e a dor é o preço da verdade?

 

Será o céu apenas uma miragem

para os olhos daqueles que nunca foram vistos?

E por que o som do silêncio pesa mais

do que a resposta que nunca virá?

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