Construiu muros dentro da própria sombra,
empilhou silêncios,
calcificou a voz numa sentença sem respostas.
Sentado no vértice do medo,
cercou-se de véus de mentira,
exigiu que o céu cedesse,
mas o céu é pedra.
O poder era a sua língua,
uma espada sem carne, sem dor.
Falava para um deserto de punhos fechados,
um hino de ferro a repetir-se no esquecimento.
Hades senta-se à sua mesa,
azeda-se o pão
e no brinde das sortes estilhaçam-se cristais.
A revolução cresce nos gestos íntimos,
nas mãos que apertam canetas e facas.
A casa ruge,
a aliança estala,
a aldeia move-se dentro dele.
Ele cai,
não pelo grito dos que o odeiam,
mas pela ociosidade dos que o serviram.
O bidente despedaça o chão.
O poder, nome sem dono,
perde-se na poeira.
Seu perecimento não é apenas um fim previsível,
é colapso abrupto de um relógio
que estremece antes de se romper.
(Para aquele que invade terras alheias em nome de um
poder imutável, que clama pelo direito de subjugar e aniquilar, mas que, ao
final, será desmoronado pela conspiração dos que o servem. E que a sua queda
seja o reflexo do peso que ele não soube carregar.)
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