Não tragas flores,
traz-te a ti, inteiro,
com os olhos abertos onde doem.
Não digas "complexo",
quando há crianças a dormir
sem metade do corpo.
Não digas "ambos os lados",
quando um deles já foi apagado
da margem do mapa.
Não tragas estatísticas,
ouve.
Cada número é um nome
que gritava por pão
e encontrou um míssil.
Não fales da História
como desculpa para a morte.
A História não pede vingança,
pede memória,
e a memória tem cheiro de terra queimada
e dentes de leite esmagados.
Tu,
que desviaste o olhar,
tu és parte,
tu que não quiseste saber,
assinaste em branco
o decreto da ruína.
Este punhal é só palavra,
mas entra onde sangra a verdade,
não corta carne,
corta silêncio.
E se doer,
então estás vivo
e se arder,
então ainda há fogo
onde Deus pode acender o mundo de novo.