Se o silêncio fosse apenas acordo,
a verdade dormiria num só leito,
e o pensamento morreria de fome,
sem o sal do contraste.
É no atrito que a centelha nasce,
é na divergência que o mundo respira.
Concordar sempre é abdicar do espírito,
é entregar as asas antes de voar.
O diálogo vive do desentendimento fértil,
não da obediência cega.
Pois pensar é arriscar-se no abismo do outro,
e ainda assim regressar inteiro,
com mais luz no olhar.
(Poema inspirado numa frase de Sigmund Freud, esta
reflexão lembra-nos que a verdadeira riqueza do diálogo está na pluralidade de
pensamentos. Se a concordância é total, corre-se o risco de perder a autonomia.
É no contraste de ideias que nascem a consciência crítica e a possibilidade de
evolução.)