Um véu desce sobre o tempo,
fino e pesado como silêncio de mar profundo.
As certezas partem-se em duas margens:
de um lado, a disciplina das formas,
do outro, o convite a dissolver-se no infinito.
Há vozes que pedem clareza,
mas cada palavra traz em si
um caminho que não volta atrás.
O que antes parecia sólido
trai-se em fendas súbitas,
como muralhas que se desmoronam no escuro.
Entre medo e desejo,
o coração é chamado a escolher
se permanece no brilho fácil das promessas
ou se suporta a prova do tempo.
Nem tudo o que seduz é real,
nem toda renúncia é perda:
há portas que só se abrem
quando se ousa largar as ilusões.
E ainda assim,
no meio da tensão,
uma faísca insiste em crescer,
sussurrando que todo fim é também
um início escondido,
pronto para nascer do lado oculto da noite.
(Poema inspirado no eclipse lunar total de 7 para 8 de setembro)
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