O mundo atravessa o vidro,
intransigente e indiferente,
uma criança chora ao lado da mãe,
um homem dorme com a cabeça caída sobre o ombro do amigo,
e ninguém diz nada.
As fachadas das casas passam como confidências mudas,
uma senhora estende roupa na varanda,
um cão ladra sozinho na esquina,
e o silêncio é mais eloquente do que qualquer voz.
O trânsito engole o sol e o vento
bate nas mãos apoiadas no vidro,
e aprende-se que o tempo não espera por narrativas,
apenas insiste em ser vivido.
A televisão nunca mostrará
o instante em que o riso explode sem motivo,
o gesto que revela ternura escondida,
a dor contida em olhares que se cruzam.
A janela ensina que o mundo é concreto,
às vezes cruel, às vezes frágil,
mas sempre inteiro,
e que a vida se aprende
não no que é explicado,
mas no que atravessa o peito sem aviso.
(Este poema foi inspirado na frase “A janela do ônibus ensina mais do que a
televisão”, de Vicente Humberto. A ideia central é que a vida observada
diretamente, nos seus pequenos gestos e detalhes, ensina mais do que qualquer
imagem ou narrativa apresentada por outros.)
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