Chamam massacre de liberdade,
aceitam a morte como troco barato
para manter uma bandeira erguida
sobre ossos e sangue.
Dizem que a igualdade foi erro,
que a luta por direitos
foi apenas excesso de sonhos,
e reescrevem a memória,
tornam heróis em vilões,
tentam rasgar páginas que custaram lágrimas.
Pregam que a mulher deve ser ventre,
e não voz,
que o futuro de uma criança
vale menos que a dignidade de quem a gera;
chamam isso “ordem natural”,
quando é apenas medo de perder domínio.
E com olhos cobertos de suspeita,
apontam para a cor, para o amor,
para o corpo do outro,
e chamam desconfiança de prudência,
ódio de prudência,
mentira de prudência,
e a palavra, gasta, já não protege,
apenas esconde.
Mas as palavras ficam,
mesmo quando disfarçadas de moral,
e o eco revela:
não é fé, não é justiça, não é liberdade,
é apenas poder travestido
de verdade absoluta.
(Este poema denuncia discursos políticos que, sob a
capa de patriotismo e valores tradicionais, acabam por justificar violência,
negar direitos conquistados e alimentar divisões sociais. Ideias como
relativizar massacres armados, questionar a igualdade racial, reduzir a mulher
ao papel de reprodutora ou atacar minorias que são apresentadas como “verdades
naturais”, mas escondem motivações de poder e medo. A poesia aqui serve para
expor como narrativas aparentemente morais podem ser, na realidade, mecanismos
de exclusão e de perpetuação de desigualdades.)
Descanse em paz.
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