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sexta-feira, 12 de setembro de 2025

O Preço da Mentira

Chamam massacre de liberdade,

aceitam a morte como troco barato

para manter uma bandeira erguida

sobre ossos e sangue.

 

Dizem que a igualdade foi erro,

que a luta por direitos

foi apenas excesso de sonhos,

e reescrevem a memória,

tornam heróis em vilões,

tentam rasgar páginas que custaram lágrimas.

 

Pregam que a mulher deve ser ventre,

e não voz,

que o futuro de uma criança

vale menos que a dignidade de quem a gera;

chamam isso “ordem natural”,

quando é apenas medo de perder domínio.

 

E com olhos cobertos de suspeita,

apontam para a cor, para o amor,

para o corpo do outro,

e chamam desconfiança de prudência,

ódio de prudência,

mentira de prudência,

e a palavra, gasta, já não protege,

apenas esconde.

 

Mas as palavras ficam,

mesmo quando disfarçadas de moral,

e o eco revela:

não é fé, não é justiça, não é liberdade,

é apenas poder travestido

de verdade absoluta.

 

 

(Este poema denuncia discursos políticos que, sob a capa de patriotismo e valores tradicionais, acabam por justificar violência, negar direitos conquistados e alimentar divisões sociais. Ideias como relativizar massacres armados, questionar a igualdade racial, reduzir a mulher ao papel de reprodutora ou atacar minorias que são apresentadas como “verdades naturais”, mas escondem motivações de poder e medo. A poesia aqui serve para expor como narrativas aparentemente morais podem ser, na realidade, mecanismos de exclusão e de perpetuação de desigualdades.)

 

Descanse em paz.

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