Do ventre azul do mundo
erguem-se sinais invisíveis,
círculos de sopro,
portais de silêncio.
Não pedem alimento,
não buscam companheiros,
não seguem instinto,
são orações em forma de bolha,
mantras líquidos,
palavras que só a alma entende.
As jubartes sabem
o que esquecemos:
o mar é memória,
e nele pulsa uma verdade antiga.
Cada anel que se abre
é uma lembrança:
o tempo é frágil,
os oceanos sangram,
e o coração humano
tem de voltar a ouvir.
Talvez sejam saudação,
talvez advertência,
talvez profecia.
Mas uma coisa é certa:
não estamos sós no pensamento,
nem na vigília do planeta.
Há vozes no abismo
que nos chamam para acordar.
(Este poema nasceu do espanto diante da descoberta recente de que
baleias-jubarte formam anéis de bolhas apenas na presença de humanos. Não como
estratégia de caça, mas como gesto gratuito, quase lúdico, que parece
atravessar a fronteira entre espécies. Li nesses sinais uma oração, não falada,
mas respirada, que talvez nos convide a repensar a nossa relação com o mar, com
a vida e connosco mesmos.)
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