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quinta-feira, 18 de setembro de 2025

Círculos do Abismo

Do ventre azul do mundo

erguem-se sinais invisíveis,

círculos de sopro,

portais de silêncio.

 

Não pedem alimento,

não buscam companheiros,

não seguem instinto,

são orações em forma de bolha,

mantras líquidos,

palavras que só a alma entende.

 

As jubartes sabem

o que esquecemos:

o mar é memória,

e nele pulsa uma verdade antiga.

 

Cada anel que se abre

é uma lembrança:

o tempo é frágil,

os oceanos sangram,

e o coração humano

tem de voltar a ouvir.

 

Talvez sejam saudação,

talvez advertência,

talvez profecia.

 

Mas uma coisa é certa:

não estamos sós no pensamento,

nem na vigília do planeta.

 

Há vozes no abismo

que nos chamam para acordar.

 

 

 

(Este poema nasceu do espanto diante da descoberta recente de que baleias-jubarte formam anéis de bolhas apenas na presença de humanos. Não como estratégia de caça, mas como gesto gratuito, quase lúdico, que parece atravessar a fronteira entre espécies. Li nesses sinais uma oração, não falada, mas respirada, que talvez nos convide a repensar a nossa relação com o mar, com a vida e connosco mesmos.)

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