Gaza não é mapa, não é cifra,
é ventre de mães, é riso de crianças,
mas para os senhores do poder
é apenas chão a redesenhar,
luxo prometido em troca de sangue.
Netanyahu delira em muralhas,
Trump sonha cifrões sobre escombros,
e a palavra “paz” é rasgada
como papel inútil nas mesas do Catar.
Querem uma Baviera para ricos,
um paraíso de vidro erguido sobre ossos,
e o povo, tornado invisível,
é condenado a desaparecer na poeira.
Mas há memória que não se cala,
há olhos que registam, mãos que escrevem,
e cada vida ceifada grita mais alto
do que todos os palácios de ouro.
A terra não esquece o sangue que bebeu,
nem perdoa os que trocaram justiça por lucro
e mesmo que queiram apagar um povo,
há sementes que resistem no deserto,
há verdades que nenhuma bomba silencia.
(Este poema nasce como um grito contra a lógica perversa da guerra, em que
interesses económicos e ambições políticas se sobrepõem à dignidade humana. As
negociações de paz no Catar são manchadas por ataques que revelam o desprezo
pela vida e pela justiça. A “Baviera para ricos” simboliza o projeto de
transformar Gaza em território de luxo à custa do sofrimento palestiniano, uma
ferida que denuncia não apenas lideranças locais, mas também cúmplices
internacionais que veem cifrões onde existe dor. O poema é, assim, uma denúncia
e uma homenagem à resistência de um povo que se recusa a ser apagado da memória
do mundo.)
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