Na noite em que o eco rebentou,
não caiu só um homem;
foi a palavra que se partiu em sangue,
foi o medo a vestir-se de discurso.
Dizem: um só dedo no gatilho.
Outros murmuram: mãos invisíveis
guiam destinos,
escrevem na pólvora o enredo do poder.
Entre versões, teorias, factos e rumores,
a verdade desfaz-se como fumo:
uns choram um mártir,
outros celebram um inimigo.
E o povo, perdido, pergunta:
quem lucra com a morte?
quem alimenta a chama do ódio
que consome mais que corpos?
Não sei se foi conspiração,
se apenas ira,
mas sei que cada bala atravessa
não só a carne;
atravessa também a confiança
que sustenta o mundo.
E nós, órfãos da clareza,
colhemos fragmentos,
à espera de um dia
em que o silêncio confesse a verdade.
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