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terça-feira, 9 de setembro de 2025

Vigília do Invisível

No escuro, o quarto é vasto como um mar,

cada canto guarda ecos de coisas ditas e não ditas.

O silêncio pesa e flutua ao mesmo tempo,

como se tivesse vida própria,

respirando junto comigo,

um espectador silencioso do meu cansaço.

 

As notícias piscam na mente,

como fragmentos de universos distantes:

uma criança que chora num país esquecido,

um cientista que descobre algo que muda tudo,

uma estrela que explode longe,

e eu, neste instante,

sou tudo e nada,

observador e observado.

 

A solidão não é apenas ausência,

é um tecido invisível que envolve pensamentos,

uma nuvem que me impede de alcançar

qualquer ordem ou sentido definitivo.

E ainda assim, há beleza nessa confusão,

uma delicada dança de caos e calma,

como se o mundo inteiro tivesse sido comprimido

num pequeno espaço entre respiração e respiração.

 

O tempo se estende e se dobra,

um relógio que caminha ao contrário e pára ao mesmo tempo.

Eu me perco e me encontro em detalhes minúsculos:

o som distante de um carro,

a luz tênue que escapa pela janela,

o próprio ritmo do meu coração,

ecoando uma música que só eu posso ouvir.

 

Mesmo na inquietação, há uma espécie de revelação:

que não precisamos entender tudo,

que é suficiente sentir,

flutuar entre fragmentos de realidade,

ser humano na sua essência,

habitante silencioso de mundos que se desdobram

dentro e fora de nós.

 

E quando finalmente os olhos se fecham,

não é sono, nem esquecimento,

é apenas o abraço temporário

da noite sobre a mente,

um lembrete de que a consciência

é vastidão,

e que cada instante de vigília

carrega em si toda a eternidade de um universo invisível.

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