No escuro, o quarto é vasto como um mar,
cada canto guarda ecos de coisas ditas e não ditas.
O silêncio pesa e flutua ao mesmo tempo,
como se tivesse vida própria,
respirando junto comigo,
um espectador silencioso do meu cansaço.
As notícias piscam na mente,
como fragmentos de universos distantes:
uma criança que chora num país esquecido,
um cientista que descobre algo que muda tudo,
uma estrela que explode longe,
e eu, neste instante,
sou tudo e nada,
observador e observado.
A solidão não é apenas ausência,
é um tecido invisível que envolve pensamentos,
uma nuvem que me impede de alcançar
qualquer ordem ou sentido definitivo.
E ainda assim, há beleza nessa confusão,
uma delicada dança de caos e calma,
como se o mundo inteiro tivesse sido comprimido
num pequeno espaço entre respiração e respiração.
O tempo se estende e se dobra,
um relógio que caminha ao contrário e pára ao mesmo
tempo.
Eu me perco e me encontro em detalhes minúsculos:
o som distante de um carro,
a luz tênue que escapa pela janela,
o próprio ritmo do meu coração,
ecoando uma música que só eu posso ouvir.
Mesmo na inquietação, há uma espécie de revelação:
que não precisamos entender tudo,
que é suficiente sentir,
flutuar entre fragmentos de realidade,
ser humano na sua essência,
habitante silencioso de mundos que se desdobram
dentro e fora de nós.
E quando finalmente os olhos se fecham,
não é sono, nem esquecimento,
é apenas o abraço temporário
da noite sobre a mente,
um lembrete de que a consciência
é vastidão,
e que cada instante de vigília
carrega em si toda a eternidade de um universo
invisível.
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