Há um elétrico que atravessa o tempo,
metade feito de velocidade, metade de silêncio.
Na rua, o mundo corre como um sopro,
tudo é efémero e vertigem.
Lá dentro, o ar repousa,
e até o coração parece ouvir-se melhor.
Mas nada está parado,
nem mesmo o que julgamos imóvel.
O tempo dobra-se,
como se o universo respirasse em direções opostas,
e cada olhar criasse seu próprio compasso.
O que é o agora, senão o encontro
entre o que se move e o que observa?
O que é o ser, senão a vibração
que oscila entre a matéria e o sonho?
Talvez o segredo esteja nesse ponto suspenso,
onde o instante se contempla a si mesmo,
e tudo o que somos
é o reflexo de um movimento
que nunca começou nem termina.
E quando o elétrico segue,
vemos, por um momento,
que o movimento é ilusão,
e a imobilidade também.
O real é o que permanece invisível:
o centro quieto
onde o fluxo se inclina
e o ser se reencontra.
(Este poema inspira-se no princípio da relatividade,
de Albert Einstein, não como teoria física, mas como metáfora do olhar humano.
Assim como o tempo e o movimento dependem do ponto de observação, também a alma
vive os seus instantes de modo distinto, conforme o lugar onde repousa o nosso
sentir.)
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