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sábado, 25 de outubro de 2025

Relatividade da Alma

Há um elétrico que atravessa o tempo,

metade feito de velocidade, metade de silêncio.

Na rua, o mundo corre como um sopro,

tudo é efémero e vertigem.

Lá dentro, o ar repousa,

e até o coração parece ouvir-se melhor.

 

Mas nada está parado,

nem mesmo o que julgamos imóvel.

O tempo dobra-se,

como se o universo respirasse em direções opostas,

e cada olhar criasse seu próprio compasso.

 

O que é o agora, senão o encontro

entre o que se move e o que observa?

O que é o ser, senão a vibração

que oscila entre a matéria e o sonho?

 

Talvez o segredo esteja nesse ponto suspenso,

onde o instante se contempla a si mesmo,

e tudo o que somos

é o reflexo de um movimento

que nunca começou nem termina.

 

E quando o elétrico segue,

vemos, por um momento,

que o movimento é ilusão,

e a imobilidade também.

O real é o que permanece invisível:

o centro quieto

onde o fluxo se inclina

e o ser se reencontra.

 

(Este poema inspira-se no princípio da relatividade, de Albert Einstein, não como teoria física, mas como metáfora do olhar humano. Assim como o tempo e o movimento dependem do ponto de observação, também a alma vive os seus instantes de modo distinto, conforme o lugar onde repousa o nosso sentir.)

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