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terça-feira, 14 de outubro de 2025

Entre o Agora e o Amanhã

Fazemos planos como quem constrói casas no vento,

traçamos rotas em mapas que se dissolvem ao amanhecer

e chamamos “futuro” a um nome que o tempo ainda não pronunciou.

 

Mas o dia, este, que respira agora,

é o único chão que não nos foge,

pois tudo o resto é horizonte, promessa que se dispersa por entre nuvens.

 

Nada nos pertence, e ainda assim tudo nos é oferecido.

O sol não promete voltar, mas regressa sem contrato, sem garantia,

apenas porque a vida insiste em recomeçar.

 

Entre o que temo perder e o que ainda não chegou,

há um intervalo sagrado: o agora,

e é nele que a esperança se constrói,

apenas com o sopro de quem acredita.

 

Não sou dono do amanhã, mas sou herdeiro do presente,

e ele basta-me.

 

Onde há respiração, há recomeço;

onde há um coração que persiste,

há sempre um futuro a nascer, silencioso, mas certo.

 

O instante suspende o tempo entre o que ficou e o que ainda se desenha.

 

Ser dono do presente não é limitar-se,

é reconhecer que a vida se revela nas pequenas certezas;

o café que arrefece, a luz que se deita,

o coração que bate, a respiração que confirma: estou aqui.

 

E nesse espaço, entre medo e confiança, entre perda e recomeço,

descubro que somos simultaneamente frágeis e eternos.

A esperança não exige posse,

e a lucidez floresce onde se aprende a confiar

no invisível que sempre sustenta o visível.

 

 

 

(Este poema foi inspirado no pensamento de Sêneca, sobre a brevidade da vida e a impossibilidade de controlar o futuro.)

 

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