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quinta-feira, 9 de outubro de 2025

O Lugar Onde Ninguém Responde

Há um silêncio que não vem da ausência,

mas da saturação de tudo o que não pode ser dito.

Um silêncio que pesa

como paredes interiores

onde a voz se desfaz antes de nascer.

 

Não é solidão,

é lucidez demais,

a consciência de que o mundo fala noutra língua

e que o eco das perguntas

morre antes de encontrar tradução.

 

Habitar este espaço é ser testemunha

do próprio desaparecimento,

assistir ao corpo a mover-se

enquanto a alma observa de fora,

como quem lê o próprio nome

num processo sem fim.

 

E ainda assim,

há um brilho secreto nesse abismo:

a fidelidade ao real,

mesmo quando ele se recusa a ser suportado.

É isso que salva,

não a esperança,

mas o olhar que permanece,

ainda que ninguém olhe de volta.

 

 

 

(Poema inspirado na experiência da solidão e da lucidez, em ecos da obra de Franz Kafka.)

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