Há um silêncio que não vem da ausência,
mas da saturação de tudo o que não pode ser dito.
Um silêncio que pesa
como paredes interiores
onde a voz se desfaz antes de nascer.
Não é solidão,
é lucidez demais,
a consciência de que o mundo fala noutra língua
e que o eco das perguntas
morre antes de encontrar tradução.
Habitar este espaço é ser testemunha
do próprio desaparecimento,
assistir ao corpo a mover-se
enquanto a alma observa de fora,
como quem lê o próprio nome
num processo sem fim.
E ainda assim,
há um brilho secreto nesse abismo:
a fidelidade ao real,
mesmo quando ele se recusa a ser suportado.
É isso que salva,
não a esperança,
mas o olhar que permanece,
ainda que ninguém olhe de volta.
(Poema inspirado na experiência da solidão e da lucidez, em ecos da obra de
Franz Kafka.)
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.