No fundo da terra,
onde o oxigénio não chega
e a luz nunca nasceu,
vive um ser que não teme a escuridão.
Não pede ar,
nem pede sol.
Alimenta-se de corrente,
banquete de electrões
que percorrem os seus fios invisíveis.
São nanocabos,
nervuras da noite,
veias de proteína
que tocam o ferro, o urânio,
e ali respiram metais
como quem conversa com pedras.
Chamam-lhe bactéria,
mas parece mais um oráculo subterrâneo,
recordando-nos
que a vida não conhece limites
e que até no silêncio dos sedimentos
há corações improváveis a pulsar energia.
Talvez, um dia,
os homens aprendam com ela:
como viver do que não se vê,
transformar ruínas em sustento,
e ser faísca no escuro.
(Este poema foi inspirado na Geobacter sulfurreducens, bactéria capaz de
gerar eletricidade e “respirar” metais, descoberta em 1987, por Derek
Lovley.)
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