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quinta-feira, 2 de outubro de 2025

A Que Respira Metal

No fundo da terra,

onde o oxigénio não chega

e a luz nunca nasceu,

vive um ser que não teme a escuridão.

 

Não pede ar,

nem pede sol.

Alimenta-se de corrente,

banquete de electrões

que percorrem os seus fios invisíveis.

 

São nanocabos,

nervuras da noite,

veias de proteína

que tocam o ferro, o urânio,

e ali respiram metais

como quem conversa com pedras.

 

Chamam-lhe bactéria,

mas parece mais um oráculo subterrâneo,

recordando-nos

que a vida não conhece limites

e que até no silêncio dos sedimentos

há corações improváveis a pulsar energia.

 

Talvez, um dia,

os homens aprendam com ela:

como viver do que não se vê,

transformar ruínas em sustento,

e ser faísca no escuro.

 

 

(Este poema foi inspirado na Geobacter sulfurreducens, bactéria capaz de gerar eletricidade e “respirar” metais, descoberta em 1987,  por Derek Lovley.)

 

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