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quinta-feira, 2 de outubro de 2025

A Tempestade de Sócrates

Ele falava com reis,

derrubava sofistas com perguntas,

abriu o caminho da filosofia

como quem acende um lume no escuro.

 

Mas em casa,

a batalha era outra.

 

Não contra discursos falhos,

mas contra gritos,

contra a água fria despejada sobre a cabeça,

contra o riso que zombava da pobreza

e do sonho de ensinar sem ouro.

 

Xantipa foi chamada de tempestade,

e Sócrates, trovão paciente.

“Depois do trovão, vem a chuva”,

respondeu com humor,

quando outros veriam apenas humilhação.

 

E talvez aí esteja o segredo:

não a vitória sobre a esposa,

não a derrota diante dela,

mas a lição de que até o mais sábio

deve aprender a viver com as tempestades

que não se deixam calar.

 

Porque a filosofia não é apenas nos ágoras,

nem apenas nos livros.

Às vezes, a maior prova de sabedoria

é manter-se sereno

quando a tempestade sopra dentro de casa.

 

 

(Este poema foi inspirado nas histórias transmitidas sobre o casamento de Sócrates e Xantipa. Mais do que um retrato histórico fiel, trata-se de uma metáfora sobre como até o homem considerado o mais sábio da Grécia podia enfrentar batalhas invisíveis dentro do lar. A tradição, muitas vezes exagerada ou moldada por preconceitos da época, descreve Xantipa como uma presença turbulenta, em contraste com a serenidade filosófica de Sócrates. Através desse contraste, o poema reflete sobre a fragilidade humana: mesmo aqueles que ensinam reis e mudam civilizações continuam vulneráveis às tempestades íntimas que nenhum raciocínio consegue silenciar.)

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