Ele falava com reis,
derrubava sofistas com perguntas,
abriu o caminho da filosofia
como quem acende um lume no escuro.
Mas em casa,
a batalha era outra.
Não contra discursos falhos,
mas contra gritos,
contra a água fria despejada sobre a cabeça,
contra o riso que zombava da pobreza
e do sonho de ensinar sem ouro.
Xantipa foi chamada de tempestade,
e Sócrates, trovão paciente.
“Depois do trovão, vem a chuva”,
respondeu com humor,
quando outros veriam apenas humilhação.
E talvez aí esteja o segredo:
não a vitória sobre a esposa,
não a derrota diante dela,
mas a lição de que até o mais sábio
deve aprender a viver com as tempestades
que não se deixam calar.
Porque a filosofia não é apenas nos ágoras,
nem apenas nos livros.
Às vezes, a maior prova de sabedoria
é manter-se sereno
quando a tempestade sopra dentro de casa.
(Este poema foi inspirado nas histórias transmitidas sobre o casamento de
Sócrates e Xantipa. Mais do que um retrato histórico fiel, trata-se de uma
metáfora sobre como até o homem considerado o mais sábio da Grécia podia
enfrentar batalhas invisíveis dentro do lar. A tradição, muitas vezes exagerada
ou moldada por preconceitos da época, descreve Xantipa como uma presença
turbulenta, em contraste com a serenidade filosófica de Sócrates. Através desse
contraste, o poema reflete sobre a fragilidade humana: mesmo aqueles que
ensinam reis e mudam civilizações continuam vulneráveis às tempestades íntimas
que nenhum raciocínio consegue silenciar.)
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