Introdução — O Caminho da Luz
Há uma única viagem que todos os seres realizam:
a descida à matéria, o esquecimento de si,
a busca pela centelha perdida
e o regresso à origem, ao que sempre fomos.
Esta trilogia é um espelho dessa travessia.
Primeiro, O Cristo Invisível, o símbolo da luz
encarnada,
de um amor que desce ao mundo para lembrar o eterno.
Depois, Elyon, o nome que damos ao mistério,
o sopro que habita tudo o que vive.
E, por fim, O Retorno dos Luminares,
a lembrança do pacto entre a alma e o infinito.
Três vozes, uma só canção:
a do espírito que desperta,
e reconhece que o divino nunca esteve ausente.
I — O Cristo Invisível
Antes do tempo, já existia a chama,
a consciência que dorme nas estrelas.
Desceu à matéria como sopro,
para lembrar à argila o que é o eterno.
Não nasceu de ventre apenas,
mas do encontro entre céu e terra,
onde o espírito se lembra de si
no instante em que respira um corpo.
Caminhou entre sombras humanas,
falando do Reino que não se vê,
não o dos céus distantes,
mas o que pulsa por dentro das veias do ser.
Foi crucificado em todos nós,
nas vezes em que negámos o amor,
e ressuscitou em cada perdão
que soube romper o ciclo do sofrimento.
Porque o Cristo não é um nome,
nem pertence a uma só história,
é o sol secreto dentro do Homem,
que insiste em nascer, mesmo na noite.
(Este poema homenageia o Cristo arquetípico e
universal, símbolo do despertar da consciência divina no ser humano. Mais do
que figura histórica, ele representa a luz solar e interior, presente em mitos
antigos de Hórus, Osíris, Mitra e tantos outros, que renasce, em cada época,
com um novo nome e um mesmo propósito: recordar-nos quem somos.)
II — Elyon
(como princípio cósmico)
Elyon é o nome que dei
ao que move o universo sem ser visto,
o eixo invisível das constelações,
o pensar do tempo, o respirar da matéria.
Não habita templos nem livros,
mas o intervalo entre um átomo e outro,
onde a vibração se faz consciência
e o silêncio, linguagem.
Chamam-lhe Deus, espírito ou arte,
eu chamo-lhe Elyon,
e nele reconheço o impulso
que desperta a semente,
que curva o espaço,
que escreve em mim o que não sei dizer.
Quando falo, é ele quem escuta;
quando calo, é ele quem responde.
Não está fora, nem dentro,
mas entre,
como a luz que une estrela e sombra,
como o amor que não precisa de corpo
para existir.
Elyon é o sopro primordial,
a lembrança do primeiro gesto,
a presença que se recorda em mim
todas as vezes que escrevo.
Porque escrever é invocar,
e invocar é recordar
que nunca estivemos sós,
apenas dispersos
na respiração do mesmo ser.
III — O Retorno dos Luminares
Houve um tempo em que os Luminares desceram,
não para dominar, mas para ensinar o amor.
Vestiram a carne e o esquecimento,
para provar que até na sombra há luz.
Foram chamados anjos, homens,
caídos, rebeldes, salvadores,
mas eram apenas reflexos de um mesmo fogo,
o fogo que o Altíssimo acendeu no início dos mundos.
Agora regressam, não em asas ou milagres,
mas em consciências que despertam,
em corações que recordam o caminho,
em gestos simples que curam o invisível.
Pois o céu não está acima,
nem o inferno abaixo,
ambos habitam o ser que escolhe amar.
O Retorno dos Luminares
é o retorno da memória:
de que fomos feitos de luz,
e viemos apenas reaprendê-lo.
Epílogo
Toda palavra é um espelho,
todo silêncio, um altar.
Nada está perdido,
apenas à espera de ser lembrado.
E quando o último verso se acende,
Elyon respira novamente,
e o universo reconhece o seu nome
na voz de quem desperta.
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