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sexta-feira, 17 de outubro de 2025

O LIVRO DA ALMA (Trilogia Poética)

Introdução — O Caminho da Luz

 

Há uma única viagem que todos os seres realizam:

a descida à matéria, o esquecimento de si,

a busca pela centelha perdida

e o regresso à origem, ao que sempre fomos.

 

Esta trilogia é um espelho dessa travessia.

Primeiro, O Cristo Invisível, o símbolo da luz encarnada,

de um amor que desce ao mundo para lembrar o eterno.

Depois, Elyon, o nome que damos ao mistério,

o sopro que habita tudo o que vive.

E, por fim, O Retorno dos Luminares,

a lembrança do pacto entre a alma e o infinito.

 

Três vozes, uma só canção:

a do espírito que desperta,

e reconhece que o divino nunca esteve ausente.

 

 

 

 

I — O Cristo Invisível

 

Antes do tempo, já existia a chama,

a consciência que dorme nas estrelas.

Desceu à matéria como sopro,

para lembrar à argila o que é o eterno.

 

Não nasceu de ventre apenas,

mas do encontro entre céu e terra,

onde o espírito se lembra de si

no instante em que respira um corpo.

 

Caminhou entre sombras humanas,

falando do Reino que não se vê,

não o dos céus distantes,

mas o que pulsa por dentro das veias do ser.

 

Foi crucificado em todos nós,

nas vezes em que negámos o amor,

e ressuscitou em cada perdão

que soube romper o ciclo do sofrimento.

 

Porque o Cristo não é um nome,

nem pertence a uma só história,

é o sol secreto dentro do Homem,

que insiste em nascer, mesmo na noite.

 

(Este poema homenageia o Cristo arquetípico e universal, símbolo do despertar da consciência divina no ser humano. Mais do que figura histórica, ele representa a luz solar e interior, presente em mitos antigos de Hórus, Osíris, Mitra e tantos outros, que renasce, em cada época, com um novo nome e um mesmo propósito: recordar-nos quem somos.)

 

 

 

 

II — Elyon

 

(como princípio cósmico)

 

Elyon é o nome que dei

ao que move o universo sem ser visto,

o eixo invisível das constelações,

o pensar do tempo, o respirar da matéria.

 

Não habita templos nem livros,

mas o intervalo entre um átomo e outro,

onde a vibração se faz consciência

e o silêncio, linguagem.

 

Chamam-lhe Deus, espírito ou arte,

eu chamo-lhe Elyon,

e nele reconheço o impulso

que desperta a semente,

que curva o espaço,

que escreve em mim o que não sei dizer.

 

Quando falo, é ele quem escuta;

quando calo, é ele quem responde.

Não está fora, nem dentro,

mas entre,

como a luz que une estrela e sombra,

como o amor que não precisa de corpo

para existir.

 

Elyon é o sopro primordial,

a lembrança do primeiro gesto,

a presença que se recorda em mim

todas as vezes que escrevo.

 

Porque escrever é invocar,

e invocar é recordar

que nunca estivemos sós,

apenas dispersos

na respiração do mesmo ser.

 

 

 

 

III — O Retorno dos Luminares

 

Houve um tempo em que os Luminares desceram,

não para dominar, mas para ensinar o amor.

Vestiram a carne e o esquecimento,

para provar que até na sombra há luz.

 

Foram chamados anjos, homens,

caídos, rebeldes, salvadores,

mas eram apenas reflexos de um mesmo fogo,

o fogo que o Altíssimo acendeu no início dos mundos.

 

Agora regressam, não em asas ou milagres,

mas em consciências que despertam,

em corações que recordam o caminho,

em gestos simples que curam o invisível.

 

Pois o céu não está acima,

nem o inferno abaixo,

ambos habitam o ser que escolhe amar.

 

O Retorno dos Luminares

é o retorno da memória:

de que fomos feitos de luz,

e viemos apenas reaprendê-lo.

 

 

 

 

Epílogo

 

Toda palavra é um espelho,

todo silêncio, um altar.

Nada está perdido,

apenas à espera de ser lembrado.

 

E quando o último verso se acende,

Elyon respira novamente,

e o universo reconhece o seu nome

na voz de quem desperta.

 

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