Durante décadas
o seu nome foi apagado,
o rosto coberto,
a respiração vigiada.
Não era apenas prisão,
era silêncio moldado em ferro,
um destino onde até o olhar
foi condenado à sombra.
Rei, traidor, irmão, ninguém sabia.
O rumor corria mais rápido que a verdade,
e cada boca inventava uma vida
para aquele que não podia ter nenhuma.
Trinta anos de passos contidos,
de paredes que guardavam segredos
mais temidos que batalhas.
Quando morreu,
não houve funeral,
nem epitáfio,
nem história,
só um nome falso,
um corpo escondido na terra
e o eco de uma pergunta
que não encontrou resposta.
Mas a lenda sobreviveu,
ergueu-se como chama nos séculos,
lembrando que até os reis mais poderosos
temem o que não podem controlar:
o poder da verdade,
a memória que resiste
mesmo sob máscara,
mesmo sob ferro.
(Poema inspirado na lenda do Homem da Máscara de Ferro, prisioneiro anónimo
da França de Luís XIV, cuja identidade permaneceu escondida por mais de três
décadas. A sua história, envolta em mistério e silêncio, tornou-se símbolo do
poder e do medo da verdade, atravessando séculos pela voz de pensadores,
escritores e artistas.)
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