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quinta-feira, 2 de outubro de 2025

O Homem Sem Rosto

Durante décadas

o seu nome foi apagado,

o rosto coberto,

a respiração vigiada.

 

Não era apenas prisão,

era silêncio moldado em ferro,

um destino onde até o olhar

foi condenado à sombra.

 

Rei, traidor, irmão, ninguém sabia.

O rumor corria mais rápido que a verdade,

e cada boca inventava uma vida

para aquele que não podia ter nenhuma.

 

Trinta anos de passos contidos,

de paredes que guardavam segredos

mais temidos que batalhas.

 

Quando morreu,

não houve funeral,

nem epitáfio,

nem história,

só um nome falso,

um corpo escondido na terra

e o eco de uma pergunta

que não encontrou resposta.

 

Mas a lenda sobreviveu,

ergueu-se como chama nos séculos,

lembrando que até os reis mais poderosos

temem o que não podem controlar:

o poder da verdade,

a memória que resiste

mesmo sob máscara,

mesmo sob ferro.

 

 

(Poema inspirado na lenda do Homem da Máscara de Ferro, prisioneiro anónimo da França de Luís XIV, cuja identidade permaneceu escondida por mais de três décadas. A sua história, envolta em mistério e silêncio, tornou-se símbolo do poder e do medo da verdade, atravessando séculos pela voz de pensadores, escritores e artistas.)

 

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