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quarta-feira, 8 de outubro de 2025

Chamada desde o Sul

Há crianças que não sabem o nome do amanhã,

mães que medem o tempo pela falta de água,

ruas que se tornaram corredores de medo,

onde cada passo é cálculo e a noite, armadilha.

 

Há campos que foram casa e agora são rotas de fuga,

toldos que abrigam vidas e lembranças,

mas onde a dor ainda respira,

vozes abafadas pelo estrondo das armas,

corpos marcados com sinais que nunca deveriam existir.

 

Não é guerra apenas de fronteiras:

é ultraje contra o humano.

Violência que não escolhe idade,

horrores que se repetem como se fosse normal

saudar a carnificina e chamar “segurança” a quem destrói.

 

Quem fecha os olhos não apaga o sangue

e quem vira a cara não muda destinos,

pois há raparigas marcadas pelo silêncio das testemunhas

e avós que contam noites de fome

como se fossem histórias antigas.

 

Levanta-te, não pelas notícias dos jornais,

mas por cada vida que pulsa aqui,

por cada criança que ainda não aprendeu a pedir socorro.

Ergue-te onde o medo se esconde

e faz do teu gesto abrigo para os outros.

 

Porque o silêncio é conivência

quando a humanidade se desfaz à luz do dia,

porque a indiferença é piso para o impune

e se não formos ponte, seremos parte da queda.

 

Ouve: chegam pedidos em linguagem de medo.

Vem: não com promessas vazias, mas com mãos que socorrem.

Fala: para que o mundo conheça os nomes que a guerra tenta apagar.

 

 

 

 

(Este poema foi inspirado pela situação no Sudão, onde milhares de pessoas vivem em condições extremas de violência e privação. Procura dar voz aos que sofrem em silêncio e exortar à solidariedade e à ação consciente perante a injustiça e o sofrimento humano.)

 

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