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terça-feira, 26 de agosto de 2025

Quando Eu Partir

Não deixem velas nem lágrimas,

não preciso de rituais nem de silêncio pesado.

Que a minha ausência seja vento

que atravesse as cortinas abertas,

que é apenas a vida mudando de forma.

 

Levo comigo as palavras que escrevi,

mas elas ficam, livres,

como pássaros pousados nos telhados da memória.

Que a poesia continue sem mim,

que ecoe nos corações que a quiserem ouvir.

 

Não é adeus, é apenas deslocar-me

para outro espaço,

onde o tempo não pesa,

e onde a respiração é apenas presença

sem corpo.

 

segunda-feira, 25 de agosto de 2025

O Oceano Invisível

Vivemos numa ilha de luz,

onde estrelas brilham e galáxias dançam,

mas a maior parte do cosmos

permanece oculta, silenciosa, invisível.

 

Matéria escura e energia escura

tecem o espaço como fios invisíveis,

movem mundos, dobram o tempo,

sussurram segredos que ainda não podemos ouvir.

 

O que vemos é apenas superfície,

o que sentimos, um eco tênue do vasto mistério,

e, no silêncio desse oceano invisível,

cada estrela, cada sombra, cada instante

carrega a memória do todo,

uma dança que somos parte, mesmo sem tocar.

 

Talvez o universo nos ensine,

que há mais em nós do que percebemos,

que o essencial é muitas vezes invisível,

e que, no invisível, repousa a verdadeira vastidão.

Presença Real

Há conexões que iluminam,

não pelo brilho ilusório,

mas pela verdade silenciosa que sustenta o encontro.

 

A sinceridade não precisa de promessas grandiosas,

nem de palavras que encantam apenas por soar bem.

Ela se revela na clareza,

no apoio constante,

na presença que não engana.

 

Confiança nasce do que é real,

do que toca a alma sem enganar os pés na terra,

e mesmo no silêncio,

essa verdade permanece firme,

como um farol discreto que guia e protege.

 

Chama Discreta

Há ecos que permanecem,

vozes que não se ouvem mais,

mas que ainda vibram no silêncio do coração.

 

A ausência pesa, mas também inspira,

e a esperança se mantém como chama discreta,

um fio invisível que liga o presente ao que foi significativo.

 

O que partiu deixou rastros de luz

que ainda guiam pensamentos e ações,

mostrando que mesmo no silêncio

a conexão verdadeira nunca se extingue.

 

Pontes de Luz

Há feridas que nascem na mente e no coração,

memórias antigas, marcas silenciosas do lar e das raízes,

e há uma força que surge dessas mesmas feridas,

uma capacidade de transformar dor em luz,

de tornar experiência pessoal em sabedoria compartilhada.

 

As palavras se tornam ponte e bálsamo,

o ato de escrever, um mergulho profundo

onde cada pensamento, cada reflexão,

pode curar o próprio ser e tocar outros,

abrindo espaço para compreensão, conexão e transformação.

 

O que um dia foi dor, silêncio ou dúvida,

torna-se agora chama que ilumina outros caminhos,

um chamamento para transformar a experiência íntima

em força coletiva, insight e liberdade.

O Peso do Íntimo

(Um poema sobre as histórias que habitam o silêncio, os gestos que ninguém vê e a força invisível do que é profundamente pessoal.)

 

Há uma história que corre em silêncio,

não escrita nos livros, nem proclamada ao mundo.

Ela se esconde nas entrelinhas do dia,

nas escolhas invisíveis,

nos pensamentos que jamais se revelam.

 

Não precisa ser a história do mundo

para ter peso, para irradiar luz.

Cada gesto, cada emoção, cada instante

carrega significados que apenas a alma percebe.

 

E ainda assim, mesmo na quietude,

essa história toca o invisível,

ecoando onde outras vozes não chegam,

provando que o íntimo é profundo,

que o pessoal é vasto, eterno,

uma luz silenciosa que nunca se apaga.

Bhagavad Gita – Essência Poética

No campo de batalha, Arjuna hesita,

o coração pesado, os olhos nublados,

e Krishna fala, sem pressa, sem julgamento,

sobre dever, ação e a verdade que habita o ser.

 

A vida é batalha e templo,

não se mede pelo triunfo ou derrota,

mas pelo ato consciente, pelo alinhamento da alma.

Cada gesto, cada escolha, cada respiração

carrega a semente da eternidade.

 

Não és o corpo, não és a dor,

não és o medo que te paralisa;

és consciência, oceano de luz,

permanente, invisível, livre do tempo.

 

O dever chama, mas não pelo fruto;

age com coragem, discernimento e entrega,

sem apego, sem raiva, sem ilusão.

O mundo pode se mover em caos,

mas tua essência permanece inteira.

 

O silêncio é mestre, o interior é campo de batalha,

a mente se acalma, o coração se abre,

e na entrega sem ego surge a liberdade.

Cada dificuldade é portal, cada medo, espelho,

cada instante, oportunidade de compreender a verdade.

 

Não busques apenas vitória,

busca integrar, transcender, perceber

que o que parece perda é aprendizagem,

que o que parece fim é passagem,

e que na ação consciente se revela

a unidade de tudo, o eterno, o divino.

 

O sol se põe, os guerreiros caem,

mas a alma desperta, desperta para si mesma,

e na vastidão do instante encontra

a essência que jamais morre,

o fio que conecta todas as vidas,

a luz que guia cada passo, cada gesto, cada escolha.

 

 

(Este poema procura traduzir em palavras o coração do Bhagavad Gita, refletindo a profundidade e a atemporalidade do diálogo entre Arjuna e Krishna. Não se trata de uma transcrição literal, mas de uma interpretação poética que captura o espírito da obra: a luta interna do ser humano, a hesitação diante do dever, a compreensão da alma como eterna e a importância da ação consciente e desapegada.

A obra original é um tratado filosófico e espiritual de vasta densidade, e aqui busquei condensar seus ensinamentos centrais em fluxo contínuo e contemplativo, sem a rigidez de quadras ou estruturas formais. O poema enfatiza a unidade do ser, a coragem diante do medo, a entrega sem apego e a percepção de que cada instante, cada escolha, carrega a semente do eterno.

A intenção é oferecer ao leitor uma experiência que desperte reflexão, introspecção e conexão com a própria essência, permitindo que a sabedoria do Gita se revele de maneira acessível, emocional e poética.)

Hinos Védicos – Fluxo Poético do Cosmos

Agni, fogo sagrado, arde no coração e na terra,

tua chama purifica, ilumina, desperta.

Que o calor do espírito aqueça os fracos,

que a luz da sabedoria dissipe a escuridão.

 

Indra, senhor dos céus, da chuva e do trovão,

derrama coragem e força sobre os que hesitam,

abre as portas do espírito,

traz energia para mover montanhas internas.

 

Vayu, vento que tudo envolve,

sopra nos corações e nos rios,

leva embora a inquietude, o medo, a dúvida,

e lembra que a vida é fluxo, movimento, respiração.

 

Varuna, guardião das águas e do cosmos,

vigia o equilíbrio, a ordem eterna,

Rta que sustenta o céu e a terra,

o invisível fio que liga o homem ao universo.

 

Surya, sol que brilha sem cessar,

traz clareza, visão, força para agir,

ensina que cada instante é oportunidade,

cada gesto consciente, semente da eternidade.

 

Morte e renascimento, Soma e energia,

todas as forças dançam em harmonia,

cada ser é reflexo do divino,

cada ação, cada respiração, invocação sagrada.

 

Que as palavras cantadas, os sons sagrados,

ressoem no corpo, na mente, no espírito,

abrindo portais de introspecção,

despertando a atenção, a pureza, a presença.

 

A terra, os rios, as montanhas e os ventos,

cada criatura, cada estrela, cada suspiro,

é parte do grande cântico,

da oração eterna que tudo sustenta,

onde o homem, humilde, encontra seu lugar

entre o visível e o invisível,

entre o instante e o infinito.

 

Ó Vishnu, sustentador do cosmos,

tua mão segura a harmonia da vida,

Krishna, guia do coração e da consciência,

ensina que ação, devoção e sabedoria

não são caminhos separados, mas um só,

um fio que liga tudo ao eterno, ao sagrado,

à essência que jamais se perde.

 

Que a sabedoria dos Vedas nos toque hoje,

que cada respiração seja invocação,

que cada olhar, cada gesto, cada escolha

reflita a ordem, a luz e a verdade do universo.

Que nos tornemos conscientes

do cántico eterno que nos envolve,

da vibração que sustenta a vida,

da presença que habita tudo.

 

 

(Este poema é uma interpretação poética dos Hinos Védicos, os cânticos mais antigos da tradição hindu, que celebram a vida, a natureza, o cosmos e o divino. Não se trata de uma tradução literal, mas de uma tentativa de capturar a vibração, a força e a essência espiritual desses textos milenares em uma forma contemporânea e fluida.

O poema busca transmitir a sensação de conexão com o universo, a presença das forças cósmicas e a interdependência de todos os seres. Cada deus, cada elemento e cada invocação foi reinterpretado para criar um fluxo contínuo, contemplativo, que inspira reflexão, introspecção e consciência do instante.

O objetivo é oferecer ao leitor uma experiência que desperte a consciência da própria essência, o respeito pelo mundo que nos rodeia e a percepção de que cada ação, cada respiração e cada momento fazem parte de um grande cântico cósmico, que conecta o visível e o invisível, o temporal e o eterno.)

Salmos – Essência Poética

Ó Senhor, fonte de toda luz e vida,

escuta o clamor do coração humano,

a voz que treme diante do medo,

a alma que busca refúgio e esperança.

 

Tu és rocha firme em meio à tempestade,

porto seguro quando as ondas da vida

tentam arrastar-nos para o abismo.

Nos teus caminhos, encontramos direção,

nas tuas mãos, a proteção que acalma.

 

Senhor, em dias de dor, ouve meu lamento,

quando o espírito se curva sob o peso da injustiça,

quando a angústia se mistura à solidão.

Leva-me da sombra à luz, da aflição à paz,

ensina-me a confiar, mesmo quando o mundo vacila.

 

Teu amor é escudo, tua sabedoria, lâmpada,

cada bênção, um sopro que sustenta a vida.

Mesmo em silêncio, em noites de dúvidas,

Tua presença se sente invisível, mas real,

como o vento que acaricia as árvores.

 

Agradeço pelos rios de alegria,

pelas mãos amigas, pelos pequenos milagres,

pela coragem que nasce no medo,

pela fé que floresce em meio à incerteza.

 

Ó Senhor, que minha vida seja canção,

palavra e gesto de gratidão,

ecoando em toda a criação,

reconhecendo que cada instante

é dádiva, cada passo, caminho,

cada respiração, louvor.

 

Que a alma desperte,

que a mente se acalme,

que o coração se abra,

e que em ti, fonte eterna,

encontre paz, consolo e alegria sem fim.

 

 

(Este poema nasce da escuta atenta aos Salmos bíblicos, esses cânticos milenares que entrelaçam dor e esperança, medo e confiança, lamento e louvor. Não procurei aqui reproduzir palavra por palavra, mas sim captar a essência viva que pulsa neles: a fragilidade humana diante do mistério da vida, e a força que se descobre quando se olha para além de si mesmo, em direção ao divino.

Os Salmos falam com a voz de todos os tempos: o clamor do justo perseguido, o canto agradecido de quem se sente abençoado, a sabedoria que nasce do silêncio, a confiança que resiste mesmo quando tudo parece ruir.

Mais do que textos antigos, são espelhos da alma. Cada geração os lê à sua maneira, e em cada coração eles ressoam de modo único. Este exercício poético é uma tentativa de trazer essa herança para o presente, em linguagem que dialogue com o hoje, mas sem perder a densidade espiritual que os faz atravessar os séculos.)