Não me exponho ao mundo,
não por cobardia,
mas por ter aprendido, cedo demais,
que mostrar-me podia significar perder tudo.
Por isso calei,
moldei-me,
amei onde me deixaram amar,
desejei onde não podiam ver
e fui bom, fui pai, fui presença,
mas também fui ausência de mim.
Só que há uma verdade que não se deixa apagar,
não grita, não exige,
mas persiste,
como um fio de lume em plena noite,
como um nome esquecido que ainda me chama.
Essa verdade sou eu
quando não me julgo,
sou eu
quando aceito que o prazer não é crime,
que o desejo não me faz menos digno,
que a minha história, inteira,
é uma travessia de coragem.
Sou eu
quando paro de fugir de mim
e me abraço como quem perdoa uma criança
que só queria ser amada como era.
Já chega de castigos inventados,
já chega de me ver como fraude.
Se vivi dividido,
foi porque precisei,
se não disse tudo,
foi porque me faltava chão.
Mas agora quero pousar,
quero viver sem máscaras,
quero amar, ainda que tarde,
com a liberdade de quem não se esconde mais do próprio coração.
A verdade é esta:
sou inteiro
mesmo com as minhas fraturas,
sou digno
mesmo com os meus receios,
sou homem
mesmo quando tremo.
E sim,
sou capaz de recomeçar,
não para ser outro,
mas para ser, finalmente,
eu.
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