Antes do pó moldar Eva,
eu já caminhava entre os ventos.
Não fui feita da tua costela,
mas da mesma terra que te formou;
igual,
livre,
inteira.
Quando me pediram que me deitasse
abaixo,
que aceitasse a ordem sem palavra,
eu disse não
e esse não ecoou mais alto
do que qualquer cântico de
obediência.
Chamaram-me demónio,
porque não aceitei a tua voz como
lei,
chamaram-me impura,
porque escolhi os meus próprios
passos,
mas eu sou apenas
aquilo que temem:
a mulher que não cede,
a que exige ser vista,
não como sombra,
mas como corpo que pensa,
alma que se recusa a ser moldada.
Fugi, sim,
não por fraqueza,
mas por saber que liberdade
não se mendiga, toma-se.
E do deserto fiz morada,
das noites fiz reinos,
e das palavras esquecidas
teci as histórias de todas
as que, como eu,
foram expulsas por dizer basta.
Eu, Lilith,
não sou queda, nem erro,
sou origem silenciada,
sou a raiz de cada mulher
que escolhe levantar-se
em vez de ajoelhar.
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