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sexta-feira, 11 de julho de 2025

Quíron e o Sopro de Hermes (à margem do Fundo-do-Céu, tornou a falar-me) / J.M.J.

Na dobra da casa onde nascem os nomes

habita um silêncio que não é vazio,

é arquivo,

é resíduo de astros antigos,

é um livro que ainda não se escreveu.

 

Ali, onde a raiz toca o céu

e o céu se curva à infância do ser,

ergue-se a cicatriz do mensageiro ferido.

 

Fala com vozes múltiplas,

mas foi calado antes do tempo;

carregava ideias estranhas,

como pássaros de metal em noites de vento.

 

Chamaram-lhe louco,

mas era Hermes em exílio hermético,

chamaram-lhe estranho,

mas era um código antigo a despertar no seu corpo.

 

Quíron ali é guardião de um saber partido:

a palavra como ponte,

a escuta como templo,

o pensamento como ato de amor.

 

Em Aquário, o verbo quer libertar,

mas a dor é a de não ser escutado

e na casa III, tudo pede mediação,

mas a herança é de ruídos e distâncias.

 

E então,

quando tudo parece esvaziar-se de sentido,

surge o velho alquimista das sete leis,

com olhos de mercúrio e voz de linho:

“Nada está imóvel. Tudo vibra.

E tu és o ponto onde vibração se transforma em verbo.”

 

 

Nasceste com o dom de traduzir o invisível,

de costurar mundos com fios de silêncio.

A tua ferida é um selo,

e o selo, quando aberto,

liberta o vento que faz girar as palavras justas.

 

 

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