Na dobra da casa onde nascem os nomes
habita um silêncio que não é vazio,
é arquivo,
é resíduo de astros antigos,
é um livro que ainda não se
escreveu.
Ali, onde a raiz toca o céu
e o céu se curva à infância do ser,
ergue-se a cicatriz do mensageiro
ferido.
Fala com vozes múltiplas,
mas foi calado antes do tempo;
carregava ideias estranhas,
como pássaros de metal em noites de
vento.
Chamaram-lhe louco,
mas era Hermes em exílio hermético,
chamaram-lhe estranho,
mas era um código antigo a
despertar no seu corpo.
Quíron ali é guardião de um saber
partido:
a palavra como ponte,
a escuta como templo,
o pensamento como ato de amor.
Em Aquário, o verbo quer libertar,
mas a dor é a de não ser escutado
e na casa III, tudo pede mediação,
mas a herança é de ruídos e
distâncias.
E então,
quando tudo parece esvaziar-se de
sentido,
surge o velho alquimista das sete
leis,
com olhos de mercúrio e voz de
linho:
“Nada está imóvel. Tudo vibra.
E tu és o ponto onde vibração se
transforma em verbo.”
Nasceste com o dom de traduzir o
invisível,
de costurar mundos com fios de
silêncio.
A tua ferida é um selo,
e o selo, quando aberto,
liberta o vento que faz girar as
palavras justas.
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