No silêncio ardente do que chamaram inferno,
almas contorcem-se,
não pela dor do fogo,
mas pela ausência do rosto amado.
Gritam,
não por castigo,
mas pela distância do abraço.
Mas então,
uma súplica,
não vinda dos condenados,
mas dos justos.
Os que conheceram o Amor
não conseguem esquecê-lo,
nem mesmo diante da justiça.
E elevam os olhos,
como quem recorda que a luz
nunca foi feita para dividir.
"Senhor", dizem,
"deixa-nos amar por eles."
E Deus escuta,
não como um juiz,
mas como Origem.
E o Céu inclina-se,
até ao mais fundo da dor,
onde o fogo já não castiga,
mas purifica.
Anjos descalços
entram no abismo
com taças de água viva
e mãos que não temem o lamento.
Lavando as sombras,
com sal das lágrimas dos que perdoaram,
eles levantam os esquecidos
como quem reencontra um filho perdido.
E assim,
num instante que não cabe no tempo,
a misericórdia vence o medo,
e o inferno é desfeito
pela ternura dos que amaram até ao fim.
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