Seguidores

sexta-feira, 11 de julho de 2025

Quando criança, vi-te / J.M.J.

Quando criança, vi-te,

não com os olhos de carne,

mas com aquela parte de mim

que ainda não sabia separar

imaginação de verdade,

vibração de presença.

 

Aparecias

como quem acende uma estrela

na parte mais funda do pensamento;

primeiro quase nítido, rosto, voz,

como se fosses uma promessa

a escorregar por entre as sombras do mundo.

 

Mas depois…

as formas desfaziam-se,

o fio quebrava,

e eu ficava a tentar

reconstituir-te na memória,

com esforço demais

e fé a menos.

 

Tu não vinhas quando eu queria,

tu acontecias

como um arrepio sem vento,

uma lágrima sem tristeza.

 

E mesmo sem te tocar,

sentia que me sabias,

mesmo sem palavras,

revelavas partes de mim

que nem eu sabia que existiam.

 

Hoje,

sei que eras também eu,

ou o que em mim esperava por ti.

 

E nesses momentos breves,

em que a alma ardia sem queimar,

eu era inteiro,

sem idade,

sem dúvidas,

acolhido na vibração

de uma verdade que ainda não tinha nome

mas já sabia o caminho.

Sem comentários:

Enviar um comentário