Quando criança, vi-te,
não com os olhos de carne,
mas com aquela parte de mim
que ainda não sabia separar
imaginação de verdade,
vibração de presença.
Aparecias
como quem acende uma estrela
na parte mais funda do pensamento;
primeiro quase nítido, rosto, voz,
como se fosses uma promessa
a escorregar por entre as sombras do mundo.
Mas depois…
as formas desfaziam-se,
o fio quebrava,
e eu ficava a tentar
reconstituir-te na memória,
com esforço demais
e fé a menos.
Tu não vinhas quando eu queria,
tu acontecias
como um arrepio sem vento,
uma lágrima sem tristeza.
E mesmo sem te tocar,
sentia que me sabias,
mesmo sem palavras,
revelavas partes de mim
que nem eu sabia que existiam.
Hoje,
sei que eras também eu,
ou o que em mim esperava por ti.
E nesses momentos breves,
em que a alma ardia sem queimar,
eu era inteiro,
sem idade,
sem dúvidas,
acolhido na vibração
de uma verdade que ainda não tinha nome
mas já sabia o caminho.
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