Sou parte do sopro que não começou,
e que também não finda;
uma brisa antiga atravessa-me,
e leva consigo os contornos que toco,
mesmo sem os saber.
Não sou um só,
sou rasto, sou causa, sou eco que semeia
o fruto em terra alheia,
que depois germina onde nunca pus o pé.
Cada gesto meu,
a palavra, o silêncio,
o olhar que desvio ou entrego,
o passo que hesita,
ou a leve inclinação do pensamento,
inscreve-se no corpo do mundo
como uma veia de luz ou sombra.
Há em mim o mundo todo,
e o mundo tem-me inteiro,
mesmo quando me esqueço.
Não passarei em vão
se for inteiro no que passo,
porque até o respirar é semente
no campo invisível
do que todos somos.
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