Já não há promessas ao fundo da estrada,
só poeira que dança com o sol
poente.
O tempo deixou de ser espera,
passou a ser contagem.
O corpo, esse velho companheiro,
fala noutra linguagem,
estala, cede, avisa
e há dias em que o espelho
parece já não devolver o nome.
Sonhou-se o envelhecer,
com chá quente, silêncios
cúmplices,
a mão no ombro a dizer:
“ainda estamos aqui.”
Mas o tempo passou primeiro,
e o sonho ficou para trás,
como roupa que já não serve
mas que não se deita fora.
Não há amargura,
há aceitação que custa,
há a lucidez de quem já não espera
o que não chegou.
Talvez o fim se queira só,
não por falta de amor,
mas porque se aprendeu a viver
assim:
com palavras como abrigo,
com o silêncio por companhia,
com a verdade como última casa.
E mesmo assim,
há beleza,
na coragem de dizer:
“não veio quem eu sonhei,
mas eu fiquei.”
Sem comentários:
Enviar um comentário