O cansaço tem um nome,
mas ninguém o diz.
Veste um corpo que se arrasta
pela sala onde as janelas
já não se abrem.
Há dias em que respirar
é uma batalha silenciosa,
contra um peso que não se vê.
Foi-lhe dito que o coração
precisava de cuidados,
mas o que fazer com a alma,
essa que não aparece no TAC.
Há quem diga que é fraqueza,
mas ele sabe,
é excesso de mundo
a fermentar por dentro:
as urnas, os tanques,
os corpos esquecidos em desertos que não são dele,
mas que doem como se fossem.
Deixou de cantar,
porque a música já não cabia no peito.
Lê, mas as palavras são pedras.
Ensaia, mas o palco
é um espelho embaciado.
O cigarro que acende
não é vício,
é uma tentativa de
não desaparecer por completo.
E sente,
sem saber se é pressentimento
ou desejo surdo,
que talvez não dure muito mais.
Mas continua,
com o pouco que tem,
com a pouca fé que resta,
com a necessidade de dizer,
para não enlouquecer em silêncio.
Quem o vê assim
pode não perceber:
ele não quer piedade,
quer apenas que alguém
olhe para dentro do escuro
e veja que há outros como ele.
E que, nesse reconhecimento,
talvez
se inicie
um fio de regresso
à vida.
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