Seguidores

quinta-feira, 10 de julho de 2025

Cassandra, a que sabe o fim / J.M.J.

Fui dada à visão

como quem recebe uma maldição.

O futuro se abre diante de mim

como um livro rasgado,

com as palavras que ninguém quer ler.

 

Fui tocada pela verdade,

mas ela não é bem-vinda.

Os deuses me deram o dom,

mas os homens me chamam louca,

pois ninguém quer ouvir

o que não pode ser evitado.

 

Os reis fecham os ouvidos,

as cidades ignoram o aviso,

e eu grito,

grito tão alto

que o eco de minhas palavras

se perde no vento.

 

Dizem que a minha dor é a minha punição,

mas quem vê a verdade

encontra o vazio da impotência,

porque saber não é mudar,

é assistir ao desastre

que, por mais que se revele,

não pode ser desfeito.

 

Sou Cassandra

e o meu silêncio

não é de quem não sabe,

mas de quem já viu o fim

e não foi ouvida.

Sem comentários:

Enviar um comentário