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quinta-feira, 10 de julho de 2025

Do retrato à carne viva / J.M.J.

No século dos retratos sépia,

a família posava: pai firme,

mãe recatada, filhos enfileirados,

tudo em silêncio e obediência.

O nome do pai era lei,

o corpo da mãe, silêncio.

E os filhos, pequenos espelhos

de um futuro que não podiam escolher.

 

Vieram guerras, migrações,

trabalhos que levaram pais,

filhos que disseram não,

mulheres que abriram portas,

homens que amaram outros homens,

mães sozinhas com mãos de aço

e crianças que ensinaram os avós

a aceitar novos mundos.

 

Hoje, a casa tem mil formas:

duas mães, um pai e um avô,

amigos que se tornam irmãos,

vidas entrelaçadas sem nome fixo.

Família já não é retrato,

é ação, escolha, aliança,

tecido em liberdade

com as cores da verdade de cada um.

 

Não é a lei que decide o que une,

nem a moral vestida de costume.

É a vida, que pulsa e cria

estruturas novas com raízes antigas,

onde a diferença não é ameaça,

mas força que renova os alicerces.

 

Porque já não é só a família

o pilar da sociedade.

É a sociedade desperta

que molda esse pilar,

não com cimento de normas,

mas com o barro vivo

da experiência humana.

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