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quinta-feira, 10 de julho de 2025

Relógios são mapas da nossa vertigem / J.M.J.

Fomos nós que dividimos

a luz em horas,

o escuro em vigílias,

os dias em nomes,

os anos em promessas.

 

Fomos nós que desenhámos o tempo

nos ossos das pedras,

nas marés do sangue,

no rasto das estrelas.

 

Mas a Terra nunca parou para contar,

nem o Sol pediu para ser ponteiro,

nem o mar quis saber do calendário.

 

Medimos o imenso com fios,

régua e superstição

e chamámos eternidade a um ciclo,

e século a um sopro.

 

Corremos como se o destino fosse chegar primeiro,

mas não há prémio,

só passagem.

 

E o tempo que escrevemos

é um espelho de nós,

a tentar fixar o que não tem forma,

a controlar o que apenas respira.

 

Relógios são mapas da nossa vertigem.

O tempo real

é silêncio

a mover galáxias.

  

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